segunda-feira, 14 de março de 2016

O SUMIÇO DO VELHO MARINHEIRO


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Há duas semanas ao menos, o Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, não dava o ar de sua impaciência no bar do Carneiro. O que passou a alimentar especulações de toda ordem, entre os muitos que tinham os dois pés atrás em relação a ele e também entre seus raros admiradores. Na verdade, estes eram apenas dois: Deolinda, o único símbolo sexual da Vila Invernada, e Ananias, o angustiado jornalista em fim de carreira, seu companheiro de copo e prosa.

"Zeca Péssimas Notícias” – o corvo de Vila Invernada – dizia a quem quisesse ouvir que fontes seguras lhe garantiram que ele estava hospitalizado:

-- Não foi por falta de avisar. Aquela sua mania de cutucar o dedão em busca do bicho de pé deu nisso: gangrena. É capaz de perder a perna.

Alguns chegaram a propor a formação de uma comissão de frente, cuja tarefa seria fazer uma visita ao Velho Marinheiro. Ananias tratou de abortar a ideia:

-- Nem pensar, pessoal. Ele não gosta nem um pouco de visitas, e gosta menos ainda de visitas inesperadas. Só nos resta esperar. Uma hora ele volta.  

-- Volta nada – assegurava Zeca, com aquela certeza típica dos agourentos.

 As especulações duraram mais uns longos dias. Até que o Velho Marinheiro entrou no bar e pediu “o de sempre” ao Carneiro. Parecia estar – e estava – com a saúde nos trinques, mas seu mau humor era evidente.

Ninguém tinha coragem (Ananias não estava ali, mas "Zeca Péssimas Notícias" estava) de lhe perguntar o motivo do sumiço. Eis que chega Deolinda:

-- Que saudades, meu amigo e conselheiro. Por onde o senhor andava?

A turma apurou os ouvidos:

-- Deolinda: fiquei três semanas sem sair de casa. Esse país é uma vergonha, os governantes são uma lástima. Quando a água, finalmente, chegava, a luz picava a mula. Como sair à rua sem banho ou de roupa amarfanhada?

-- Nossa! Sempre soube que o senhor é vaidoso, mas não tanto.

-- Não é vaidade, Deolinda -- falou nosso Lobo do Mar, caçador de bicho de pé imaginário, de olhos fixos em ZPN. . É higiene. Se todos os que estão aqui presentes tivessem feito o que fiz, o bar do Carneiro não estaria fedendo desse jeito nem teria sido palco de tantas fofocas e maledicências. Gente porca e linguaruda. Aceita uma cervejinha Deolinda? (OS - 2014)

  



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