16.03.2016 - UOL
PARA PSDB, DELAÇÃO BOA
É CONTRA MORAL ALHEIA
(Por Josias de Souza) Para o PSDB e seus aliados oposicionistas, a delação de Delcídio
Amaral só merece crédito até certos pontos. Os pontos em que ele denuncia a
corrupção praticada por Dilma, Lula, o petismo e seus sócios. Nesses trechos,
Delcídio é tão verdadeiro que ajudará a derrubar a presidente da República. No
entanto, nos pedaços da delação em que aponta o dedo na direção do tucano Aécio
Neves, o delator passa a ser mentiroso e caluniador. Não merece o mínimo
crédito.
As reações da oposição à
delação de Delcídio, divulgada na íntegra pelo STF nesta terça-feira, dão uma
ideia do oportunismo com que os rivais do Planalto manipulam a moralidade
alheia. Fazem barulho com os pedaços convenientes das denúncias do ex-líder do
governo. E dedicam o silêncio das catacumbas aos trechos que mencionam Aécio.
Alega-se que o PT sempre tentou misturar as coisas para igualar todos à sua
abjeção.
No momento, o melhor que a
Procuradoria-Geral da República poderia fazer é misturar as coisas, para ver
quem sobrevive às investigações. Aécio disse numa entrevista: “Defendo que tudo
seja apurado, investigado em profundidade. É isso que vai separar o que eventualmente
é verdadeiro daquilo que é falso, daquilo que é uma tentativa de nivelar a
todos.” O procurador-geral Rodrigo Janot deveria dar ouvidos ao senador. A
oposição renderia homenagens à coerência se enviasse um ofício a Janot cobrando
a abertura de um inquérito sobre Aécio.
“Os relatos sobre a
roubalheira de Furnas
são quase tão antigos
quanto a primeira missa”
Num trecho de sua delação,
Delcídio, um ex-tucano que foi diretor da Petrobras na gestão FHC, disse ter
tomado conhecimento de um esquema de corrupção montado em Furnas. Comandava-o
Dimas Toledo, um diretor da estatal elétrica nomeado no governo tucano. Numa
viagem a Campinas, Lula perguntou a Delcídio quem era Dimas. O senador
respondeu que se tratava de “um companheiro do setor elétrico, muito
competente.”
Ao explicar as razões de
sua curiosidade, Lula declarou, segundo o relato de Delcídio: “Eu assumi e o
Janene veio me pedir pelo Dimas, depois veio o Aécio e pediu por ele. Agora o
PT, que era contra, está a favor. Pelo jeito ele está roubando muito'.' Instado
a dizer quem recebia dinheiro sujo de Furnas, Delcídio disse que Aécio, com
certeza, estava entre os beneficiários.
Os relatos sobre a
roubalheira de Furnas são quase tão antigos quanto a primeira missa. Roberto
Jefferson começou a se transformar na bomba que implodiu o mensalão depois que
perdeu uma disputa pela diretoria de Furnas, que era pilotada por Dimas Toledo.
Deu-se em 2005. O personagem estava na poltrona havia 12 anos. Tornara-se um
provedor pluripartidário. Sob Lula, passara a prover propinas também às arcas
petistas, geridas à época pelo notório Delúbio Soares.
Excluído da boquinha,
Jefferson cobrou a substituição de Dimas. Desatendido, encontrou pretextos para
acender o pavio do mensalão. Desde então, Furnas frequenta o notíciario como
uma linha de transmissão para a corrupção por ser investigada a sério. Algo criterioso,
não os simulacros de inquérito feitos até aqui. Chegou a hora. Vamos lá, doutor
Janot, “em profundidade'', como sugere Aécio.
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
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