11.03.2016
SPONHOLZ |
DILMA ESTÁ PENDURADA NO
SUPREMO
(Por Guilherme Fiuza) O
Brasil sentiu falta do pronunciamento de Dilma Rousseff no Dia Internacional da
Mulher. Essa era uma das poucas garantias de um governo que chama sua chefe de
presidenta, ou sua presidente de chefa. Agora a brincadeira acabou. O homem que
inventou essa mulher entrou na mira da polícia. O homem que escrevia o que ela
falava foi preso. O mito da mãe coragem foi construído com dinheiro roubado do
contribuinte, apontou a Lava Jato. Sobrou um fantoche que não fala, uma mulher
que tem medo de panela.
Por
incrível que pareça, Dilma só não foi mandada embora para casa ainda por ser
uma mulher ungida por um pobre. A Lava Jato está investigando o enriquecimento
desse pobre, mas isso não parece suficiente para desmontar o presépio. Não é
política, é religião. Mesmo que esse pobre milionário possa ter roubado o povo,
boa parte dos fiéis permanece saudando-o com seus cânticos melancólicos – e
eventualmente alugados. Toda igreja monta sua base financeira, mas essa
tesouraria não tem paralelo: seus cofres contêm o dinheiro de uma nação. Não é
fácil desmontar um presépio de pobres coitados que têm um cheque especial do
tamanho da Petrobras.
Por
um capricho do destino, a tesouraria da igreja petista foi parar na cadeia.
Primeiro, João Vaccari, o rei mago dos pixulecos, e, quando parecia que seria
só botar novos picaretas no lugar dos presos – como na queda de Delúbio,
Valério e grande elenco mensaleiro –, os financiadores do credo começaram a
cair também. Com a condenação de Marcelo Odebrecht a 19 anos de prisão, dá para
sentenciar: a mulher sapiens está só.
“As
revelações de Delcídio do Amaral não deixam dúvidas:
Dilma
e seu estado-maior (do qual Delcídio fazia parte)
trabalhavam
para usar os Tribunais Superiores
na
obstrução das investigações do petrolão”
Pendurada
na fachada do presépio apodrecido, virtualmente abandonada até pelo PMDB, a
presidente da República se agarra a uma única e última mão: a do Supremo
Tribunal Federal.
Cruel
ironia: no momento em que Sergio Moro e a força-tarefa da Lava Jato – a
Operação Mãos Limpas brasileira – elevam a Justiça ao papel de resistência
quase solitária ao massacre populista, a mais alta Corte dessa Justiça
permanece como o bastião de resistência do populismo. Até a Câmara dos
Deputados, que não é flor que se cheire e está sob a presidência de um réu,
permanece permeável ao ir e vir da democracia. Essa instituição legislativa
desacreditada e carcomida deu andamento a um sólido pedido de impeachment
apresentado por respeitáveis juristas – e impecavelmente fundamentado para
apontar os crimes de responsabilidade de Dilma Rousseff nas pedaladas fiscais e
no escândalo do petrolão.
“O
mito da mãe coragem foi construído com dinheiro roubado do contribuinte,
apontou a Lava Jato. Sobrou um fantoche que não fala,
uma
mulher que tem medo de panela”
Onde
esse pedido republicano e democrático atola? No Supremo Tribunal Federal. É de
lá que vêm as manobras para barrar a investigação formal e direta da presidente
que foge das panelas, e foi de lá que vieram as manobras para atropelar o
funcionamento democrático da depauperada Câmara dos Deputados na partida do
processo de impeachment. A técnica, quem diria, virou travesti da política.
Os
crimes de responsabilidade cometidos pela presidente são flagrantes, basta ler
a Constituição. Mas, assim como o PT inventou a contabilidade criativa, o STF
inventou a leitura criativa da Constituição. Nos três meses desde que o pedido
de impeachment foi aceito pela Câmara, as evidências da Lava Jato praticamente
dobraram – especialmente quanto à negligência da presidente da República na
responsabilização de seus subalternos claramente envolvidos no esquema de
corrupção. Isso é crime. Mas as revelações de Delcídio do Amaral não deixam
dúvidas: Dilma e seu estado-maior (do qual Delcídio fazia parte) trabalhavam para
usar os Tribunais Superiores na obstrução das investigações do petrolão.
Quando
o filho de Nestor Cerveró gravou o líder do governo afirmando que conversaria
com os ministros do Supremo sobre a liberação do criminoso, suas excelências
mandaram prender o senador com brados em defesa da justiça contra o crime, “não
passarão” etc. Em seguida, livres da berlinda, meteram o bisturi no Poder
Legislativo travando o rito do impeachment.
Até
prova em contrário, o Congresso Nacional é mais confiável que o Supremo
Tribunal Federal – justamente por ser muito menos qualificado. Ou seja: uma
tragédia. Mas quem pode tirar o país da tragédia maior são os parlamentares –
se as ruas mandarem. Treze de março, Dia Internacional da Mulher Sapiens.
GUILHERME FIUZA
É JORNALISTA E ESCRITOR
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