sábado, 19 de março de 2016

QUASE HISTÓRIAS (XXI)


A VOZ DA NATUREZA

A criatura ia todos os dias ao parque próximo de sua casa. E por ali ficava um tempão danado. Caminhava descalça, sem pressa alguma. Mandava beijos ao sol, sorria para o vento, conversava com as plantas, trocava confidências com os pássaros e recitava poemas para o gato pardo e sem dono, mas igualmente filho do Pai.

Saía do parque em paz com o mundo, tão leve quanto uma borboleta.

Mas nada, nada mesmo, lhe dava maior satisfação que conversar com a velha e frondosa árvore que fica a poucos metros do portão de saída. Era sempre sua última – e mais longa – parada. Tinha certeza de que a árvore a ouvia com a máxima atenção, compreendia seus sentimentos e que apenas não lhe respondia por uma única razão: árvores não falam.

Mas, um dia a árvore falou:

-- Querida criatura, três coisinhas: não fume antes de me abraçar, seu bafo é insuportável; não pise nas minhas raízes; por fim, um pedido: vá vender sua loucura em outra freguesia. (OS)


DOU TCHAU PRA TODO MUNDO


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Odeio este treco que colocam nos vidros dos carros para escurecê-los. Sou míope. Na dúvida, aceno para quem passa por mim na garagem do prédio. Ou do outro lado da rua. Tanto faz. Na dúvida, sempre aceno.

Como sabem, há dois tipos de míopes: os que passam por arrogantes, não cumprimentam ninguém; e os que abanam as mãos para todo mundo, em especial para quem não conhecem.

Pertenço à segunda categoria: a dos tolos. Tchau. (OS)

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