quinta-feira, 17 de março de 2016

CHÁ DAS CINCO

Esse poema que não fiz vai para Carmen Sílvia Presotto, 
poeta talentosa que despertou a Hilda adormecida 
vadiando nesse peito vadio, o meu (OS)




VENHO DE TEMPOS ANTIGOS
De Hilda Hilst



Deus pode ser a grande noite escura
E de sobremesa
O flambante sorvete de cereja.

Deus: Uma superfície de gelo ancorada no riso.

Venho de tempos antigos. Nomes extensos:
Vaz Cardoso, Almeida Prado
Dubayelle Hilst... eventos.

Venho de tuas raízes, sopros de ti.
E amo-te lassa agora, sangue, vinho
Taças irreais corroídas de tempo.

Amo-te como se houvesse o mais e o descaminho.
Como se pisássemos em avencas
E elas gritassem, vítimas de nós dois:
Intemporais, veementes.

Amo-te mínima como quem quer MAIS
Como quem tudo adivinha:
Lobo, lua, raposa e ancestrais.
Dize de mim: És minha.

(Texto extraído do encarte à edição de "Cadernos da Literatura Brasileira", 
editado pelo Instituto Moreira Salles, número 8 - Outubro de 1999.  
Fonte: Projeto Releituras)



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