quarta-feira, 23 de março de 2016

COELHINHO DA PÁSCOA, O QUE TRAZES PRA MIM?

Bem, amigos, a Páscoa chegou. É tempo de reflexão, renascer, renovar as esperanças, amar o próximo mais que a você mesmo. Certo? Não. Bom seria se fosse assim, mas não é. É tempo de dar e receber colombas. E de reparar na colomba alheia. 

Atire a primeira colomba quem já não se viu na constrangedora situação de presentear um parente ou amigo, com uma colomba e receber – de volta e de pronto – outra colomba. As colombas, como estrelas, mudam de lugar, trocam de mãos, mas não saem das mesas, neste período em que ovos de chocolate, quando não estão pela hora da morte, custam os olhos da cara. O que, a rigor, dá no mesmo.

A situação é ridícula. Seria muito mais lógico que cada um comprasse e se deliciasse com sua própria colomba. No mínimo, seriam economizados tempo e dinheiro. Ninguém se sentiria obrigado a encarar imensas filas no supermercado nem gastar com fita, cartão e papel de embrulho. E a economia não pararia por aí. Por que pagar o dobro se, após o domingo de Páscoa, as colombas, a exemplo dos panetones depois do Natal, são vendidas na bacia das almas? Isso se você não se incomodar de comprar colombas sem embalagem de papelão e levemente amassadas. Aí, o preço despenca de vez.


O pior não se limita ao aspecto econômico. O emocional é de lascar. Não é tarefa fácil ligar para a cunhada, que jamais revelou entusiasmo com suas visitas, e avisá-la de que vai dar uma passadinha por lá para lhe deixar uma lembrancinha. Sua cunhada não é a Mãe Dinah, mas sabe de antemão que uma colomba a espera e trata de embrulhar a colomba que ganhou da vizinha para retribuir seu presente. Constrangimentos a parte, ao menos, você evita que a cunhada, marido e filhos o visitem e levem a tiracolo uma colomba, além da fome e sede de anteontem. Hoje, já não dá para pôr mesa para todo mundo. Sabemos. Quem afirma o contrário mente. Ou está no "petrolão". 
Mas que tudo isso não lhe embote o verdadeiro sentido da Páscoa. Se receber uma colomba inferior à colomba que você acaba de dar – o que não é raro acontecer –, lembre-se de que é melhor uma colomba nas mãos que dois ovos de chocolate voando. Também não dê espaço para aborrecimentos, se o ofertante lhe disser: “Não repare. Ando tão sem ideia para comprar presentes”.  Mentira. Ideia ele tem. O que ele não tem é dinheiro. Ou pior: acha que você não merece nada melhor que a colomba. Não passe recibo. Diga aquele falso “muito obrigado” que ninguém diz tão bem como você.

Boa Páscoa. (OS - 2013)

Um comentário:

  1. Adorei a crônica, Orlando Silveira!!! A verdade é essa mesma!!! A troca obrigatória de ovos de páscoa, colombas, e panetones no natal, torna-se cansativa.e coincide você dar e receber a mesma coisa. Comigo já aconteceu até com outros presentes. Fazer o que? Tem-se que dançar conforme a música!!! Feliz Páscoa para você e seus familiares, com ovos e colombas variados!!!

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