10.03/2016
(Por Percival Puggina) Em
outro artigo, que será publicado na edição de Zero Hora deste próximo final de
semana, escrevi sobre a anomia que acometeu o Brasil neste inicio de século,
relegando a nação a uma condição selvagem em pleno ambiente urbano. Tal
condição se caracteriza pela insegurança, pelo medo, pela decadência do
respeito à lei e aos poderes constituídos, e pela quase inutilidade do setor
público, incapaz de dar solução adequada às mais rudimentares de suas
atribuições.
Na
política, repete-se como axioma que ela não convive com vácuos. Em tese, todo
vazio é rapidamente preenchido. Pois a anomia se instalou no Brasil muito
gradualmente já no segundo mandato de Lula, quando o presidente, para efeitos
públicos, assumiu-se como mito. E mitos não governam. Mitos são taumaturgos,
anunciam quimeras. Governar é para os mortais. Depois, quando Dilma foi eleita
e reeleita, o vazio do poder instalou-se de vez. A presidente da República é
aquilo que a ciência define como perfeito e impossível - o vácuo absoluto, a
total ausência de conteúdo. Quando se instala algo assim no espaço
intergaláctico, forma-se o fenômeno conhecido como buraco negro, capaz de
devorar galáxias inteiras. No Brasil, não. Fica vazio e pronto.
Não
bastasse uma governança politicamente oca, verdadeiro infortúnio, produziu-se
entre nós, simetricamente, um outro vazio tão ou mais surpreendente na oposição
política. O tucanato, apresentado pelo petismo como seu arqui-inimigo, não
corresponde à ideia comum que se tenha de um partido de oposição. Não é
possível olhar para o PSDB e achar que ali está o Batman do Coringa petista. O
PSDB é apenas o maior partido fora do governo. Não é sensato tomar como conduta
de partido de oposição aquilo que, na ordem dos fatos, são apenas manifestações
desconexas de divergência em relação ao governo.
Temos,
portanto, dois fenômenos que, em tese, não poderiam existir. E que talvez só
possam ocorrer exatamente por serem simétricos e equivalentes. Dois vácuos
políticos aguardando provimento, no governo e na oposição. Não será difícil
encontrar na situação descrita uma das causas determinantes da crise multiforme
que, como nação, estamos enfrentando.
No
dia 13 ocorrerá no Brasil a maior manifestação popular de nossa história. É
diante desse cenário que ela vai acontecer. O povo irá às ruas não para
substituir-se às instituições, mas para sacudi-las de sua letargia. Vai às ruas
por uma questão de saneamento moral básico, de honra nacional, para recuperar
valores que foram pisoteados pelos cavaleiros do Átila de Guarujá. Ainda assim
continuaremos precisando de algo tão parecido quanto possível com um governo e
uma oposição.
Adicionar legenda |
Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora
e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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