sábado, 12 de março de 2016

NATAL SEM CASTANHAS

chocolateamais.com

-- Velho Marinheiro, meu amigo, o único que ainda tem paciência para ouvir minhas lamúrias: vou de mal a pior. Sou a tristeza encarnada.

-- Ananias: desembuche. Meus ouvidos estão prontos para ouvi-lo. Mas seja breve, como convém a um jornalista. Até porque fui convidado para churrasco na casa de Deolinda. Não gosto de chegar atrasado.

-- Sabe o que é?

-- Se você não me falar, como vou saber? Não sou vidente, Ananias. Adiante.

-- Velho Marinheiro: minha vida não faz mais sentido. Não tenho vontade de me reunir com as pessoas, está cada vez mais difícil encontrar trabalho, ainda que temporário, dependo, sim, da ajuda financeira de minha mulher, acho que não fui bom marido nem bom pai...

-- Que mais, Ananias?

-- Quando entro nas redes sociais, então... Porra, todo mundo deu certo!

-- Rede social é o tal de facebook?

-- Sim, o facebook faz parte das redes sociais.

-- Dia desses, Ananias, minha neta querida, Irene, estava nesse lixo. Dei uma espiada. Aquilo é mais falso que fotografia posada. Ali, todo mundo ri, todo mundo está feliz. É o parque da Xuxa. Abandone essa porcaria. Outra coisa: você está bebendo demais. Seu cérebro está perturbado. Quem bebe muito deixa tudo para amanhã – um amanhã que nunca chega.


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-- Tenho que mudar de vida. É verdade, é verdade. Do contrário, não comerei castanhas no Natal.

-- Eu também, Ananias, não vou comer castanhas no Natal.

-- Não me diga uma coisa dessas, Velho Marinheiro. O senhor tem saúde de ferro.

-- Tenho mesmo, graças a Deus. Mas não vou comer castanhas porque odeio castanhas. Agora, me dê licença: o churrasco de Deolinda me espera. (2014)



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