DE DOSTOIEVSKI PARA LULA
(Por Percival Puggina, em
07/03/2016) A tarefa de fazer com que muitos creiam não
é apenas missão religiosa. É, também, essência da política como arte de
conquistar apoios para alcançar e manter o poder. Há sistemas políticos nos
quais as pessoas creem em partidos e suas ideias, visões de mundo, perspectivas
históricas, valores e em como isso se projeta nos anos por vir. E há sistemas,
como o nosso presidencialismo, em que a crença dos eleitores recai sobre as
pessoas dos candidatos. É fácil compreender que isso nos faz mais vulneráveis à
mentira como forma de angariar apoios. Quanto mais ingênuo o eleitor, quanto
mais carente do benefício pessoal que lhe possa advir do poder público, mais
sensível ele se torna a mentiras e mistificações. Nas nossas disputas
políticas, a verdade é mais inoportuna do que a mentira.
Em
Irmãos Karamazov, Dostoievski
ensina: "O homem que mente para si mesmo e escuta as próprias mentiras
chega a um ponto em que não pode distinguir a verdade e a mentira dentro de si
ou ao redor de si, e assim perde todo o respeito por si mesmo e pelos
outros".
Após
seu depoimento nas instalações da PF em Congonhas, durante a entrevista que
virou discurso, o ex-presidente era imagem viva e falante do desastre exposto
por Dostoievski. Lula apelou para todo o seu repertório de artimanhas. Quero
destacar a que é mais repetida, ao longo dessa infinita série de escândalos.
Segundo o governo, a promissora condução petista dos negócios nacionais seria
antagonizada por uma elite que não tolera a prosperidade dos mais pobres.
"Quem não quiser isso é doido.
E quem acusa 90% da população
ser contra isso é o quê, Dostoievski?"
Lula,
Dilma, o governo e seus partidos prestariam enorme serviço à saúde pública se
apontassem quais brasileiros desejam que os pobres continuem pobres e morram na
miséria. Essas pessoas, certamente pouquíssimas caso existam, deveriam ser
identificadas e tratadas porque portadoras de um desejo anormal, desumano e
masoquista. Ninguém mentalmente sadio quer viver sitiado pela miséria e suas
vexatórias consequências que o governo sequer minimamente conseguiu abrandar.
A
esse respeito, o senso comum grita contra a algaravia de Lula: nada é tão
honestamente benéfico ao bem de cada um do que o bem de todos! Nada é mais
conveniente à prosperidade de cada um do que a prosperidade de todos! São dois
axiomas que dispensam provas. Eis por que o desastre ético e técnico da gestão
petista nos leva a sonhar com educação promovendo o desenvolvimento das
potencialidades da juventude, população ativa ganhando a vida e gerando
riqueza, produção, consumo, empregos, PIB crescendo, inflação caindo e as
pessoas podendo cuidar bem de si mesmas. Quem não quiser isso é doido. E quem
acusa 90% da população ser contra isso é o quê, Dostoievski?
PERCIVAL PUGGINA |
(*) Percival Puggina (71),
membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor
e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo
Pensar+.
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