SAPO BARBUDO, SEGUNDO BRIZOLA |
NOMES DE GUERRA
(Por Nelson Motta, em
05/03/2016, O Globo) Apelidos muitas vezes falam mais sobre as
pessoas do que sua própria identidade. Frutos da maldade e do humor,
ridicularizam o poder e o dinheiro, devastam reputações, abundam na política
brasileira e fazem história como crítica social. Assim como nome, apelido é
destino. Como o falecido ex-deputado alagoano Cleto Falcão, que as más línguas
diziam meio agatunado, ser apelidado de Clepto Falcão. E o ex-governador
mineiro Hélio Garcia, que seria muito chegado aos copos, de Ébrio Garcia.
Grande
especialista, Brizola alcunhou Lula eternamente de Sapo Barbudo; Moreira
Franco, de Gato Angorá; e Collor, de Filhote da Ditadura. ACM, o Toninho
Malvadeza, apelidou Michel Temer de Mordomo de Filme de Terror. Todos merecidos
e em plena vigência. Em diálogos de corruptos gravados pela PF, Sarney é chamado
pelo codinome de Madre Superiora. Apelidos são até roubados, como Garotinho fez
com o famoso locutor esportivo homônimo. Ou fabricados, como o Lulinha Paz e
Amor, por Duda Mendonça, que abriu caminho para a vitória de Lula em 2002.
Porque
assim como atrapalham, apelidos podem ajudar: Tim poderia ter o mesmo sucesso
como Sebastião Maia? Lulu Santos seria um popstar como Luiz Mauricio? Alguém
imagina Lobão cantando e fazendo o que faz como o roqueiro João Luiz? Grandes
craques sempre tinham apelidos, Pelé, Zico, Fenômeno, nunca poderiam se
consagrar como Nascimento, Coimbra ou Nazário.
A
Lava-Jato trouxe uma nova leva de apelidos que fazem rir e farão história. Como
Lula ser chamado de Brahma por executivos da OAS, dizem que por ser “o número
um” mais do que por cervejeiro, mas há controvérsias. Sempre com uma mochila
que parecia uma extensão do seu corpo, abarrotada com seus pixulecos
milionários, João Vaccari Neto era conhecido como o Moch pelos pagadores
debochados, que também sacaneavam Nestor Cerveró chamando-o de Lindinho, e Luiz
Argôlo de Bebê Johnson, que, enjaulado, virou bebê chorão. Já Renato Duque, por
seu estilo exuberante e confiante de que nunca seria pego, era o My Way, que,
como Frank Sinatra, fazia as coisas do seu jeito, até que o juiz Sérgio Moro
fez do dele.
Nelson Motta (São Paulo, 29
de outubro de 1944) é jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor
musical e letrista brasileiro
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