sábado, 12 de março de 2016

COISAS DA VIDA

A SEPARAÇÃO


CADÊ VOCÊ, JOSÉ?


(Por Violante Pimentel) Há vários anos, um Juiz, de uma Comarca do interior do Rio Grande do Norte, recebeu uma petição de um casal residente na zona rural, pedindo a separação judicial.

A audiência de conciliação foi marcada. As partes foram ouvidas pelo Magistrado, separadamente, na tentativa de uma desistência do pedido. O Juiz, como é de praxe, ressaltou a necessidade de salvar o contrato civil do casal, preservando, assim, a integridade da família legalmente constituída, como é do interesse da sociedade e da lei.

O homem, ao ser ouvido, mostrou-se bastante indiferente em relação à separação. Se Maria resolvesse continuar casada com ele, a vontade dela prevaleceria. Se quisesse mesmo a separação, ele também concordaria. Mas a mulher compareceu à audiência, decidida a obter a dissolução da sociedade conjugal. O Juiz tentou fazer com que ela desistisse do pedido, mas não houve jeito. À certa altura da audiência de reconciliação, o Juiz viu-se obrigado a fazer perguntas relacionadas à vida íntima do casal. A mulher mostrava-se encabulada, respondendo com meias palavras, até que, diante da insistência do Juiz, ela resolveu abreviar a conversa e falou:

- Doutor Juiz, o grande problema do meu casamento com José, é que, quando nós casamos, ele trouxe uma cabra para morar na minha casa, dizendo que era de estimação e dava muito leite. Eu concordei, pois sei que o leite de cabra é mais forte do que o leite de vaca. Gostei logo da bichinha, fiquei cuidando dela, e até aprendi a tirar leite. Durante dois meses, José demonstrou sentir muito amor por  mim.  Depois, começou a mudar o comportamento, foi ficando frio pra mim, e demorando muito a me procurar. Parecia que não era mais meu marido. Ficava deitado na sala até de manhã, dizendo que no quarto fazia muito calor. Comecei a imaginar que ele tivesse arranjado alguma dona por aí, e não me quisesse mais. Fiquei desesperada, perguntei o que estava acontecendo, e ele disse que não era nada. Eu é que era chata e desconfiada demais. Disse que estava muito cansado do trabalho na marcenaria. Mesmo assim, a frieza dele continuou, e a minha desconfiança foi aumentando. Comecei, então, a espionar meu marido, mas não descobri nenhum sinal de traição. Certa noite, perdi o sono e fui até à sala onde ele dormia. A rede estava vazia.  Andei a casa toda e não vi José. Notei, então, que a porta que dá para o quintal estava somente encostada. Em silêncio, fui até lá e tive uma surpresa horrível: Encontrei meu marido agarrado com a cabra, por trás, em completo ato de amor. Se eu tivesse pegado ele com uma mulher, doutor, acho que eu não tinha sofrido tanto! Mas ele me deixar sozinha na cama e preferir amar a cabra é uma coisa que eu não posso perdoar. Foi a maior decepção da minha vida. Ter uma cabra como rival, é a maior humilhação do mundo, Senhor Juiz! Nem que Jesus me peça, não fico mais casada com esse homem! A mulher dele é a cabra!!! 

O Juiz, diante desse relato estarrecedor, não contestado pelo marido, não teve mais argumentos para tentar convencer a mulher a desistir da separação.

A sentença do Magistrado foi pela dissolução da sociedade conjugal.


Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte


Nenhum comentário:

Postar um comentário