A SEPARAÇÃO
CADÊ VOCÊ, JOSÉ? |
(Por Violante Pimentel) Há
vários anos, um Juiz, de uma Comarca do interior do Rio Grande do Norte,
recebeu uma petição de um casal residente na zona rural, pedindo a separação
judicial.
A
audiência de conciliação foi marcada. As partes foram ouvidas pelo Magistrado,
separadamente, na tentativa de uma desistência do pedido. O Juiz, como é de
praxe, ressaltou a necessidade de salvar o contrato civil do casal,
preservando, assim, a integridade da família legalmente constituída, como é do
interesse da sociedade e da lei.
O
homem, ao ser ouvido, mostrou-se bastante indiferente em relação à separação.
Se Maria resolvesse continuar casada com ele, a vontade dela prevaleceria. Se
quisesse mesmo a separação, ele também concordaria. Mas a mulher compareceu à
audiência, decidida a obter a dissolução da sociedade conjugal. O Juiz tentou
fazer com que ela desistisse do pedido, mas não houve jeito. À certa altura da
audiência de reconciliação, o Juiz viu-se obrigado a fazer perguntas
relacionadas à vida íntima do casal. A mulher mostrava-se encabulada,
respondendo com meias palavras, até que, diante da insistência do Juiz, ela
resolveu abreviar a conversa e falou:
-
Doutor Juiz, o grande problema do meu casamento com José, é que, quando nós
casamos, ele trouxe uma cabra para morar na minha casa, dizendo que era de
estimação e dava muito leite. Eu concordei, pois sei que o leite de cabra é
mais forte do que o leite de vaca. Gostei logo da bichinha, fiquei cuidando
dela, e até aprendi a tirar leite. Durante dois meses, José demonstrou sentir
muito amor por mim. Depois, começou a mudar o comportamento, foi
ficando frio pra mim, e demorando muito a me procurar. Parecia que não era mais
meu marido. Ficava deitado na sala até de manhã, dizendo que no quarto fazia
muito calor. Comecei a imaginar que ele tivesse arranjado alguma dona por aí, e
não me quisesse mais. Fiquei desesperada, perguntei o que estava acontecendo, e
ele disse que não era nada. Eu é que era chata e desconfiada demais. Disse que
estava muito cansado do trabalho na marcenaria. Mesmo assim, a frieza dele
continuou, e a minha desconfiança foi aumentando. Comecei, então, a espionar
meu marido, mas não descobri nenhum sinal de traição. Certa noite, perdi o sono
e fui até à sala onde ele dormia. A rede estava vazia. Andei a casa toda e não vi José. Notei,
então, que a porta que dá para o quintal estava somente encostada. Em silêncio,
fui até lá e tive uma surpresa horrível: Encontrei meu marido agarrado com a
cabra, por trás, em completo ato de amor. Se eu tivesse pegado ele com uma
mulher, doutor, acho que eu não tinha sofrido tanto! Mas ele me deixar sozinha na
cama e preferir amar a cabra é uma coisa que eu não posso perdoar. Foi a maior
decepção da minha vida. Ter uma cabra como rival, é a maior humilhação do
mundo, Senhor Juiz! Nem que Jesus me peça, não fico mais casada com esse homem!
A mulher dele é a cabra!!!
O
Juiz, diante desse relato estarrecedor, não contestado pelo marido, não teve mais
argumentos para tentar convencer a mulher a desistir da separação.
A
sentença do Magistrado foi pela dissolução da sociedade conjugal.
Violante Pimentel é procuradora
aposentada do Rio Grande do Norte
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