PSIU (FOTO: STOCK) |
LAVA JATO: SIGILO DAS DELAÇÕES
SÓ AGRAVA A CRISE POLÍTICA
O sigilo em torno do que acaba vazando de uma maneira
ou de outra só serve para alimentar especulações e agravar
uma situação que já é por demais explosiva
Por Ricardo Noblat
Globo.com - 07/03/2017 | 03h21
O ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Claudio Melo
Filho disse, ontem, ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman
Benjamin que o presidente Michel Temer pediu a Marcelo Odebrecht doações para a
campanha do PMDB em 2014.
O que isso tem de novo? Nada. Melo Filho limitou-se a confirmar as
informações que fazem parte de sua delação premiada com a Lava Jato. Benjamim é
o relator da ação do PSDB que pede a cassação da chapa Dilma-Temer por
irregularidades.
A delação de Melo Filho vazou em dezembro último. Segundo ele, em um
jantar no Palácio do Jaburu, residência do então vice-presidente da República,
Temer pediu “direta e pessoalmente” a Odebrecht apoio financeiro para a
campanha do seu partido.
Participaram do jantar, além de Temer e Odebrecht, Melo Filho e o
ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil. Na ocasião, de acordo com Melo Filho,
acertou-se que a doação seria de R$ 10 milhões, sendo que R$ 4 milhões foram
repassados a Padilha em dinheiro vivo.
Em depoimento ao ministro Benjamim na semana passada, em Curitiba,
Odebrecht disse não recordar de Temer ter falado ou pedido os R$ 10 milhões
diretamente. O acerto do valor teria sido feito entre Melo Filho e Padilha
depois da saída de Temer do local.
Há alguma contradição entre o que disse Melo Filho e o que disse
Odebrecht a Benjamim? Aparentemente, não. Melo Filho não disse que Temer pediu
R$ 10 milhões, e sim que pediu apoio financeiro. Odebrecht disse que o valor do
apoio foi combinado por Padilha com Melo Filho.
O sigilo em torno do que acaba vazando de uma maneira ou de outra só
serve para alimentar especulações e agravar uma situação que já é por demais
explosiva. Informações a conta-gotas conspiram contra o correto entendimento do
que de fato ocorreu, seja qual for o alvo delas.
Espera-se a qualquer momento a divulgação pela Procuradoria Geral da
República de um novo pedido de abertura de inquéritos contra um número
expressivo de políticos. É imprescindível que o pedido implique na quebra do
sigilo em torno de todas as provas e indícios que os incriminem.
Os investigados têm esse direito, mas não somente eles, também o
distinto público, quase sempre sujeito a julgamentos apressados.
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