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COMO
AGIR SE VOCÊ FEZ
PROPAGANDA
DA CARNE?
Na
propaganda, o ator não investe só os três dias de gravação.
Ele
leva 50 anos de carreira sólida
Por
Walcyr Carrasco
Época
Digital – 28/03/2017
O
escândalo da carne levantou uma questão. Como fica quem emprestou seu nome e
sua carreira para a propaganda? Como o ator Tony Ramos, a apresentadora Fátima
Bernardes e até mesmo o rei da voz, Roberto Carlos, que é vegetariano. É uma
situação espinhosa. Na propaganda, tem grande efeito o “testemunhal”, ou seja,
a contratação de uma personalidade conhecida para desfiar as maravilhas de um
produto. Principalmente se essa personalidade tiver uma imagem confiável, como
é o caso, por exemplo, de Tony Ramos e Fátima Bernardes. O testemunhal é tão
forte que, em empresas com jornalismo de porte, como o Grupo Globo e a Editora Abril,
nenhum repórter, editor ou diretor de redação pode fazer publicidade. Parte-se
do princípio de que o jornalista investiga e dá seu testemunho baseado em
fatos. Se fizer publicidade, será uma confusão entre a realidade que ele
desvenda e a propaganda em si. Mesmo presentes só são aceitos até um patamar
modesto. Eu mesmo, quando jornalista de uma revista grande, cheguei a devolver mimos
que recebia. Também sei de casos de jornalistas demitidos por manterem uma
relação interesseira e material com certo tipo de entrevistado.
No
mundo da moda, da televisão, da música, entre os apresentadores, não há essa
rigidez. Nem precisa haver, já que todos lidam com fantasia, imaginação.
Obviamente, quando uma modelo famosa como Gisele Bündchen aparece na TV
mostrando os modelitos de uma coleção popular, mesmo que leve seu nome, não é
certeza que use. Claro, com aquele corpo, Gisele enverga qualquer modelo e fica
ótima. Mas que ela use direto, sei não... A propaganda, nesse caso, é mais uma
maneira de dar uma chancela. Sei de um caso em que uma atriz se recusou a
gravar o comercial. Só não menciono o nome dela porque ouvi a história de seu
ex-marido. Não foi diretamente, portanto pode haver alguma distorção. O caso é
que a atriz, na época já uma estrela das novelas (ainda é), foi gravar uma
propaganda de cosmético. Quando ia aplicar o cosmético, a produtora ofereceu:
–
Usa esse outro aqui. Ninguém vai notar e é melhor para sua pele.
–
Quer dizer que isso aqui é uma porcaria? – admirou-se a atriz.
Começou
a chorar. Não queria divulgar um produto ruim. Não gravou, rompeu o contrato. E
nunca mais gravou nenhum comercial.
Também
a atriz Grazi Massafera ganhou minha eterna admiração quando foi gravar Verdades Secretas, de minha autoria,
exibida pela Rede Globo. Grazi foi convidada para o papel de uma viciada em
crack. Na mesma época, recebeu outro convite, de uma grande marca de
cosméticos, para ser a única da marca no Brasil. Não sei falar de valores, mas
posso imaginar que um convite de exclusividade nesse patamar é bem alto.
–
Não posso aceitar. Vou fazer uma personagem que exigirá que eu emagreça, fique
feia – respondeu a atriz.
Surpresa!
A marca resolveu esperar. Grazi arrasou no papel da viciada e foi indicada ao
Emmy Internacional de Melhor Atriz, no ano passado. A marca de cosméticos? Após
terminada a novela, firmou o contrato de exclusividade.
Em
todos esses negócios, o artista assina um papel em branco. Ele entra com seu
nome e seu prestígio, confiando que a empresa não fraudará o combinado. Óbvio
que nenhum ator ou apresentador terá condições de supervisionar todos os
aspectos do trabalho da empresa. Mas, baseado nas garantias que a empresa dá e
também no cachê, aceita. Vejam bem: um desavisado pode pensar “o sujeito vai
lá, grava três dias e ganha uma fortuna”. Não é bem assim. Ele leva consigo,
como Tony Ramos, 50 anos de carreira sólida. Uma vida imaculada. Jamais viveu
um escândalo, participou de um golpe, fez negociata. Posso dizer o mesmo de
Fátima Bernardes, cuja seriedade ninguém discute. Até de Roberto Carlos, que
podem gostar ou não como cantor. Mas golpe, nunca deu.
De
repente, vem o escândalo. Ninguém tem falado nisso, mas ele recai também sobre
a carreira séria dos artistas. Qual o valor de um testemunhal seu agora? Depois
da Friboi, acho que está muito baixo. Só que, como todo mundo sabe, fazer
propaganda e merchandising é também uma parte importante da renda do ator ou
apresentador.
Como
todos nós, eles confiaram. Fecharam um contrato que, repito, tem o valor de uma
carreira toda. Minha opinião? Deviam processar essas empresas que os envolveram
sem os devidos cuidados éticos. Não se pode brincar com vidas e carreiras tão
dignamente construídas.
***
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