REGIMES
HORRÍVEIS
As
dietas são criadas para atormentar as pessoas,
e
não para torná-las mais felizes ou magras
Por
Walcyr Carrasco
Época
Digital – 14/03/2017
Tenho
um amigo que faz o regime paleolítico. Está em moda. Realmente deixa o corpo
sem 1 grama de gordura. Inspira-se em como o ser humano se alimentava no
Paleolítico: carnes gordurosas grelhadas, assadas, bacon, galinha frita. Zero
de carboidratos. Algumas verduras, como o brócolis, são permitidas. Já vi meu
amigo devorar travessas de cupim e torresmo. Para testar sua firmeza,
convidei-o para jantar em casa. Ofereci uma travessa de pés de frango, com as unhas.
Fugiu, enojado.
–
Acha que os frangos iam à manicure durante o Paleolítico? – quis saber.
–
Sou traumatizado com pés de frango. Não como – respondeu.
–
Naquela época, os homens deviam comer as galinhas cruas, com as penas –
argumentei.
–
O que importa é minha barriguinha de tanque.
Ficamos
por aí. Ele devora travessas de comida, mas está sempre com fome.
–
Acha que seu fígado vai suportar? – perguntei.
Permaneceu
em silêncio. Está pensando em mudar de dieta.
Outra
invenção insuportável é o terror a lactose e glúten. Ambos tornaram-se, de um
instante para outro, vilões absolutos da boa saúde. Evitar o glúten é uma
tarefa quase impossível, que exige empenho. Está presente em quase tudo o que
se pode encontrar numa gôndola de supermercado. A lactose também é frequente
nos alimentos. Mas as pessoas avisam, horrorizadas:
–
Evite o pão, que tem glúten.
Fui
a uma loja especializada comprar pão sem glúten. Parecia um pedaço de isopor
endurecido. Surpreso, descobri que a hóstia na Igreja tem glúten. Um hidratante
corporal pode ter. E nem falar de macarrão, pizzas, bolachas, cervejas, uísque
ou vodca. Raramente um restaurante oferece alimentos absolutamente sem glúten.
Daí para a frente. Há pessoas que nascem com intolerância. São os celíacos, que
se forem a um dos melhores restaurantes do mundo, como o D.O.M. de Alex Atala,
levarão um lanchinho sem graça. A formiga amazônica com pó de ouro, destaque do
menu de Atala, deve ter glúten também. Afinal, tudo o que é bom tem.
Quem
nasce com a intolerância submete-se a uma dieta controlada a vida toda. Mas por
que resolver unir-se a esse grupo de sofredores por vontade própria? Há teses
médicas, mas que não fazem parte da cartilha do CRM. Segundo as tais, o glúten
e a lactose fazem muito mal. Eu avalio o devotamento antiglúten de outra
perspectiva. As dietas são criadas para atormentar as pessoas. Não é para
torná-las mais saudáveis nem mais felizes, e raramente mais magras. Mas para
fazer da vida de quem as segue um suplício. Deve haver um grupo de
nutricionistas americanos cujo objetivo é enlouquecer a humanidade. Como?
Inventando dietas que se tornam seitas, como a do glúten. Quem segue só pode
ter vida social com seus comparsas antiglúten. Não se divertem num bar, não comem
bolo em festinha de aniversário. Se jantam em casa de amigos, são tantas as
exigências que é melhor nem convidar.
Agora
vem o pior. Intolerâncias podem ser adquiridas. Após dois anos sem lactose, por
exemplo, a pessoa pode desenvolver uma intolerância definitiva. Aí, sim, estará
unida ao batalhão de pessoas que nascem com essa condição. E terá de enfrentar
as restrições pelo resto da vida.
Eu
me pergunto. Por que a gente enlouquece por dietas? Às vezes a desculpa é que é
saudável. Outras, que ficaremos em boa forma. Eu já tive minha cota de tortura.
Certa vez fiz um regime em que tomava um hormônio de gravidez. Juro. A
explicação científica, segundo o médico:
–
Você comerá o mínimo. O hormônio fará com que seu corpo “pense” que você é uma
mulher grávida. E absorverá todas as suas reservas de gordura para salvar o
bebê. Só que não há bebê, e a gordura vai embora.
Acreditam?
Pois é, topei. Nem massagem com creme podia fazer. Comida, o mínimo. Mas o
regime só durava dez dias. No final, mal podia caminhar de fraqueza. Será que
uma grávida se sente assim, céus? Perdi 4 quilos. E não aproveitei a melhor
festa da minha vida, do meu amigo Ricardo, com os pratos mais fabulosos que já
vi. Até hoje me arrependo ao lembrar-me das bandejas de salmão, de camarões!
Quilos
perdidos a gente acha depressa. Estão aqui de volta, os 4. Aprendi. Dieta é que
nem moda. Um dia os decotes são maiores, depois sobem. Cada ano, vem um novo
regime, restritivo, como eu disse, de alguma associação de nutricionistas
malvados. No ano retrasado, não foi o Ravenna?
Podem
pôr na mesa: glúten, lactose, o que for. A vida continua! Nenhum regime tortura
me pega mais. Bem...nunca se sabe!
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