O CHOFER
(Por Violante Pimentel) Antigamente,
não se falava em “motorista de táxi”. O que havia era “chofer de praça”. E na
praça, concentravam-se os carros de aluguel.
O
táxi, propriamente dito, apareceu historicamente quando foram aplicadas taxas à
sua utilização, através do taxímetro, aparelho mecânico ou eletrônico, que mede
o valor cobrado pelo serviço, com base em uma combinação entre a distância
percorrida e a tarifa inicial. Foi inventado no século XIX, pelo alemão Wilhelm
Bruhn.
Em
Natal, o chofer de praça trajava sempre terno cáqui, camisa branca, gravata
preta e sapatos pretos.
Seu
Josias era um conhecido chofer de praça de Natal, educado, conversador e
simpático, beirando os 60 anos. Era um contador de histórias. Muito
supersticioso, não trabalhava no dia em que tinha um sonho mau. Se sonhasse com
gato preto, urubu, sapato ou arrancando dente, sabia que, naquele dia, nada
para ele ia dar certo, e preferia ficar em casa. Gostava muito de relembrar
episódios de sua vida.
Contava
que, antes de ser chofer de praça, tinha sido chofer de um caminhão misto e
havia feito muitas viagens pelo sertão nordestino, transportando passageiros.
Gostava muito da profissão, até que, num certo dia, em plena viagem, um dos
passageiros do misto foi acometido de uma tremenda dor-de-barriga e ele viu-se obrigado
a parar o carro na estrada, diversas vezes. O passageiro entrava correndo de
mato a dentro, para satisfazer suas necessidades e voltava pálido e
envergonhado. A viagem, nesse dia, sofrera um atraso enorme, o que o deixou
bastante contrariado. Numa das paradas solicitadas pelo passageiro, para ir ao
mato, disse seu Josias que também desceu e se dirigiu a uma casinha que avistou
ao longe, em busca de alguma “meizinha” que curasse essa infeliz
dor-de-barriga. Foi recebido por uma velhinha, que lhe perguntou:
–
O senhor já experimentou dar o olho da goiaba a ele (o chá)?
Disse
seu Josias que não gostou da pergunta e respondeu grosseiramente:
–
Se depender disso, esse passageiro pode se acabar pelo fundo, feito balaio! A
senhora é doida, dona? Vôtes!
E
o chofer contou que voltou muito contrariado, e meteu o pé no acelerador,
enquanto, nessas alturas, a catinga do passageiro empestava a boleia do misto.
Ao chegar a Natal, deixou o passageiro no pronto-socorro e foi direto tratar de
mandar lavar o carro.
Foi
a última vez que dirigiu o misto. Ficou traumatizado com o ocorrido. Afinal,
teve de parar o carro umas dez vezes, para que o passageiro corresse para o
mato. A partir de então, abominou a profissão de chofer de misto, e se tornou
chofer de praça.
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