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OVELHA
NEGRA DA FAMÍLIA E BODE EXPIATÓRIO
De
repente, um segmento da economia brasileira
que mais orgulhava o
Brasil no mundo
deixou de ser bênção e virou maldição
Por
Deonísio da Silva
Blog
do Augusto Nunes – 26/03/2017
A
ovelha negra da família é irmã do bode expiatório. A cantora Rita Lee
contribuiu para deixar esta ovelha ainda mais popular, ao torná-la um sucesso
de nosso cancioneiro: “Levava uma vida sossegada/ Gostava de sombra e água
fresca/ Foi quando meu pai me disse:/ “Filha, você é a Ovelha Negra da família/
Agora é hora de você assumir e sumir”.
Cada
um de nós pode identificar a ovelha negra, seja qual for o ambiente. Ela não
está apenas na família. Está na escola, na universidade, no seu local de
trabalho, no trânsito, na Câmara, no Senado, no STF e, principalmente, nos
noticiários.
A
atual ovelha negra da família estava homiziada nos rebanhos do agronegócio e
jazia bem quietinha nos frigoríficos. De repente, um segmento da economia
brasileira que mais orgulhava o Brasil no mundo deixou de ser bênção e virou
maldição. Bem, mas se aparência e essência fossem a mesma coisa, a ciência
seria desnecessária.
Os
agroboys e as agrogirls estavam tranquilos no seu agrobusiness quando outros neologismos invadiram o mundo deles e
nem todos vinham do Inglês. A mídia passou a falar em herbicidas, transgênicos,
agrotóxicos etc. E muitos redatores, que pouco ou nada sabiam da fome e da
subnutrição dos tempos do jeca-tatu, tiveram que falar e escrever sobre estes
temas, sem jamais terem sido apresentados a uma vaca, a um boi, a uma ovelha, a
algumas galinhas.
E
foi assim que o agronegócio pagou o pato, e a ovelha negra da família passou
rapidamente a bode expiatório. Os dois, inspirados no mundo agrário e pastoril,
vieram de civilizações pré-cristãs.
Na
Ilíada, obra em que o poeta grego Homero narra a Guerra de Troia, ocorrida no
século XIII a.C., mas trazida para a escrita por volta do século VI a.C., o rei
Príamo, fazendo as vezes de sacerdote, ofereceu em sacrifício uma ovelha negra
para selar o pacto guerreiro de Páris e Menelau. A expressão migrou para o
mundo das metáforas e passou a designar a pessoa tida como culpada de tudo no
meio em que vive, sendo oferecida em
sacrifício nas falas, isto é, nas fofocas.
Já
o bode expiatório é da tradição hebraica e deve ter surgido por volta do século
XVI a.C. – estas datas todas são muito imprecisas – pois aparece na Bíblia, no
terceiro livro do Pentateuco, o Levítico. Descreve o rito de declarar culpado
pelos pecados de todos um animal inocente, levá-lo ao altar para este ato e
depois conduzi-lo ao deserto. Lá, o animal é abandonado para morrer. De fome
provavelmente.
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