IMAGEM: ARQUIVO GOOGLE |
Mais do mesmo – de novo, como sempre. Percorrera a pé o quarteirão,
fazendo as paradas obrigatórias: bar do Pedro, bar do Zé, bar do Paulo etc. Mas
naquela segunda, mais que nas outras, não quis prosa alguma. Não estava
disposto a ouvir. Falar? Nem pensar. Cogitou comprar algo para comer.
Contentou-se com três maços de cigarros e dois litros de aguardente. Mestre da
gororoba, ele faria um bem bolado com as sobras do domingo.
Pensou em Inês, a velha mulata de pernas ainda bem torneadas. Assanhada,
ela sempre lhe dizia:
-- Seu Otávio: o senhor precisa se cuidar: fazer a barba, cortar os
cabelos. Que desleixo é esse? O senhor, aprumadinho, não é homem de se jogar
fora.
Em casa, Otávio resolveu fazer o que há muito não fazia: olhar-se no
espelho. Quase enfartou. Era uma réplica piorada do capeta. Um caco ensebado.
Tinha que pôr um fim naquilo. Lembrou-se de seu Humberto, velho conhecido, dono
de bar e de alguma sabedoria:
-- Parei de beber, Otávio, porque percebi que estava deixando tudo
para depois. E o depois nunca chegava.
Otávio se prometeu mudar de vida. A partir de próxima segunda,
claro.
(OS – março de 2017)
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