CHARGE: PAIXÃO - GAZETA DO POVO (PR)
LAVA
JATO:
OU O
BRASIL AVANÇA
OU
VIRA RATOCRACIA
Quem
olha para o Congresso põe em dúvida
a Teoria da Evolução. A política brasileira
parou de evoluir.
E considera
a hipótese de involuir
Por Josias
de Souza
UOL –
18/03/2017 | 01:10
Em
três anos de Lava Jato o Brasil experimentou sensações antagônicas. Depois de
assistir a coisas inéditas, o país presencia um surto de mesmice. O que há de
inédito no escândalo é que, pela primeira vez desde a chegada das Caravelas, o
braço punitivo do Estado investigou e prendeu pessoas que, historicamente, se
comportavam como se estivessem acima das leis. Esse ineditismo é agora ameaçado
pelo que há de mais tradicional na política brasileira: o patrimonialismo se
uniu ao oportunismo para restaurar a “normalidade”.
No
Brasil, o combate à corrupção convive com uma ‘síndrome do quase’. O país quase
conseguiu restaurar a moralidade quando escorraçou Fernando Collor do Planalto.
Mas faltou punir as empreiteiras que engordaram o caixa do tesoureiro PC
Farias. Os anões quase foram banidos do Orçamento da União. Mas as empreiteiras
que compravam emendas orçamentárias foram novamente poupadas. A nação quase
virou outra quando o Supremo Tribunal Federal condenou a turma do mensalão. Mas
cuidou-se da máfia sem atentar para o capo.
Há
uma forme de limpeza no ar. Mas a elite política, nivelada em perversão pela
Odebrecht, providencia um dique de contenção. Os procuradores da força-tarefa
de Curitiba tremem. Basta uma noite no Congresso e toda uma investigação pode
cair por terra, disse um deles. De fato, quem olha para o Congresso põe em
dúvida a Teoria da Evolução. A política brasileira parou de evoluir. E
considera a hipótese de involuir. No futuro, quando os historiadores puderam
falar sobre a Lava Jato sem precisar assistir a TV Câmara de madrugada, a maior
operação anticorrupção da história será apresentada como um marco civilizatório
ou como um fenômeno que consolidou o Brasil como uma ratocracia.
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