PALAVRAS FALADAS VOAM,
ESCRITAS PERMANECEM
Michel Temer recorreu ao ‘verba volant, scripta manent”,
que deve ter retirado de algum compêndio de Direito,
ambiente em que tais ditos são muito citados
Por Deonísio da Silva
Blog do Augusto Nunes
05/03/2017
No dia 7 de dezembro de 2015, parece que foi ontem, tal a velocidade
da época que se vive no Brasil, o então vice-presidente Michel Temer escreveu
uma famosa carta à então presidente Dilma Rousseff.
Destacou 11 pontos, provavelmente inspirado por Bertrand Russel, que
recomendou aludir a fatos diante de interlocutores ou temas complicados, que
suscitam dúvidas em excesso. Outro antigo provérbio lembra que “contra fatos
não há argumentos”.
A frase, porém, que o então vice escolheu para epígrafe de sua Carta
foi o provérbio que é título deste artigo, cuja versão original em latim é
“verba volant, scripta manent”, que ele deu com a tradução entre parênteses,
provavelmente por saber a quem se dirigia.
Estas frases famosas são conhecidas por diversas designações:
máximas, provérbios, sentenças e também brocardos. Brocardo porque um bispo alemão
chamado Georg Burckard, que viveu no século XI, organizou uma série destas
frases em vários volumes. Elas já existiam em grande quantidade nos fins do
primeiro milênio.
“Ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore” é outro
brocardo muito conhecido e muito citado.
Michel Temer, o agora presidente, recorreu ao ‘verba volant, scripta
manent”, que, ele homem de saber jurídico, deve ter retirado de algum compêndio
de Direito, ambiente em que tais ditos célebres são muito citados.
Mas por que ele terá recorrido ao Latim? Só o Presidente poderá
esclarecer o verdadeiro motivo, mas este escritor e professor aventa a hipótese
de que poderá ter sido para indicar, entre tantas diferenças, que ele, um
constitucionalista, prezava e preza o Direito. E que ele só assumiria a
presidência se o afastamento da então presidente, já muito mais do que um
rumor, obedecesse aos atos litúrgicos constitucionais desta passagem, sempre
dolorosa e sempre sujeita a controversas interpretações.
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