GLEISI: "TÔ COM T, MAS HOJE NÃO1" (*) |
RECADO PARA A GLEISI
Mire-se no exemplo das brasileiras que prestam,
senadora, ou faça greve a senhora
Por Valentina de Botas
Blog do Augusto Nunes
Veja.com – 08/03/2017
Parece que Gleisi Hoffmann quis mirar-se no exemplo daquelas
mulheres de Atenas da peça “Lisístrata”, em que a personagem que nomeia o texto
cômico de Aristófanes as comandou numa greve de sexo até que os maridos, bravos
guerreiros de Atenas, pusessem um fim à guerra com Esparta. Esposas e mães a
quem jamais era perguntado o que pensavam colocaram-se contra a carnificina, o
sofrimento e a miséria que a guerra trazia.
Como mandava a regra, mulheres, sequer consideradas cidadãs naquela
Grécia de 2.400 anos atrás, eram proibidas no elenco (e na plateia!), sendo
substituídas por homens travestidos. Hoje, as mulheres escrevem, encenam e
produzem peças de teatro, pois as coisas mudaram um tantinho. Mas Gleisi não
percebeu. Apesar de cômico, o texto de Aristófanes discute com seriedade noções
de democracia, patriotismo e cidadania; na comicidade involuntária da patética
senadora encarnando uma Lisístrata perturbada, as brasileiras são conclamadas a
desrespeitar a lei e a usar o sexo como escambo. Não vou fazer greve nenhuma.
Abrigada dos riscos da luta cotidiana pela sobrevivência e alheia
aos problemas reais para fazer valer os direitos das mulheres porque presa a um
feminismo ideológico-oportunista, talvez a senadora tosca não saiba, mas as
mulheres já descobrimos a dignidade, o intelecto, a persistência, o trabalho, a
independência – recursos mais adequados do que o apelo ao sexo na busca por
nossos direitos. As mais atentas até já descobrimos homens maravilhosos que
ajudam nessa busca sem precisar “usar saia” (feminilizar-se e outras
mistificações que os emasculam), bastando honrar as calças.
Não vou atender à convocação para obstruir estradas porque repudio a
seita autoritária que açula a narcísica imposição do direito de cada
títere-devoto se sobrepor aos interesses da maioria; não vou porque eu respeito
a lei, prática ignorada pela senadora ré. Assim, meu dia 8 de março – uma data
fantasia – será similar ao meu cotidiano até o dia 7 e continuado no dia 9: é
dia de acordar antes das 6, preparar o café da minha filha e levá-la à escola;
trabalhar pelo meu sustento e pelo da pequena – um desafio angustiante no
Brasil arruinado pela seita petista –; além de cuidar das tarefas domésticas.
Se vai rolar um sexo ou não, não é assunto da Lisístrata obtusa: tire as mãos
petistas daí!
Mire-se no exemplo das brasileiras que prestam, senadora, ou faça
greve a senhora, pois, quanto menos trabalharem mulheres e homens com tais
ideias degeneradas, menor o risco de o país piorar.
(*) FOTO: MARCELO ANDRADE
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