IMAGENS: ARQUIVO GOOGLE |
SÉRGIO
MORO JOGA XADREZ.
OS
POLÍTICOS JOGAM DAMAS
Por
Ricardo Noblat
noblat.globo.oglobo.com
31/03/2017
| 02h47
Com
um único lance que surpreendeu seus adversários, a Lava Jato fez ontem uma
jogada de mestre: pela primeira vez desde que existe, ao invés de ameaçar um
político ou um grupo de políticos, pôs em xeque todo um partido. O Partido
Progressista (PP) foi acusado de improbidade administrativa. Se a acusação for
aceita mais tarde pela Justiça, ele terá que devolver R$ 2 bilhões aos cofres do Estado.
A
tudo assistiu à distância o juiz Sérgio Moro. Enquanto em Curitiba os
procuradores da Lava Jato anunciavam a novidade, ele se ocupava em Brasília em
debater a reforma do Código de Processo Penal. Foi obrigado a ouvir críticas
diretas e indiretas de deputados da oposição, órfãos da ex-presidente Dilma e
do ex-presidente Lula, que no dia 3 de maio irá depor em Curitiba. Mas não se
incomodou.
Aos
deputados parece ter passado despercebido outro movimento sutil do juiz: a
escolha da cidade para assinar a sentença que condenou a 15 anos e quatro meses
de prisão o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Brasília é o
coração de todas as tramas em curso contra a Lava Jato. Conspira-se, ali,
abertamente para sufocar ou impor limites à Lava Jato. Ela começou em Brasília
ao investigar uma rede de postos de combustíveis.
O
xeque ao PP, com a denúncia também de seis dos seus atuais deputados federais e
quatro ex-deputados, significa que mais adiante outros partidos deverão ser
alvos da mesma acusação. Natural que sejam. Beneficiaram-se de propinas como o
PP. De recursos desviados da Petrobras como o PP. E vários dos seus membros
enriqueceram igualmente. Quem garante que eles sobreviverão quando a Lava Jato
tiver chegado ao fim?
Mais
de um partido não sobreviveu à Operação Mãos Limpas, na Itália. Foi devastador
para eles a descoberta do mar de lama que acabou por afogá-los. De resto, seus
principais líderes foram fulminados pela operação, como aqui estão sendo as
estrelas de partidos de todos os tamanhos. Os resultados das eleições do
próximo ano poderão provocar um dos maiores expurgos políticos da nossa
história.
Com
o xeque ao PP e a condenação de Cunha, os procuradores e Moro desidrataram
ainda mais o discurso de que o PT e Lula são vítimas de perseguição política e
objetivos preferenciais da Lava Jato. Cunha, sem o qual o impeachment de Dilma
jamais teria existido, está em situação pior do que Lula. O PP tem mais nomes
envolvidos com a Lava Jato do que o PT. Tal condição poderá ser reivindicada no
futuro pelo PMDB.
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