Minha velha (Velha? Aquelas pernocas torneadas dizem o contrário) está
com pique que jamais teve. Alvíssaras. Acorda cedo, anda no parque, limpa a
casa, manda lavar o carro, deixa o “pois é” na garagem, vai de condução
resolver os “problemas” do filho juiz em Santa Catarina (sempre falta uma papelada,
é sabido: a burocracia, para além da manutenção do próprio cargo, sempre que
pode leva algum por fora), carrega a caçula (criança de tudo, 26) para fazer isso
e aquilo, arruma tempo para arrumar o apartamento da praia (bebê vai morar lá, passou
no concurso do TJ, que será de nós?).
Que velha incansável, essa Sabiá. Tem tempo para tudo. Nem sempre
sobra tempo para nós. Claro, claro, não fazemos o que fazíamos. Mas ninguém morrerá
por isso. Por isso, a gente fica. Para sempre. Espero.
Tanto saracotear me cansa. Evidentemente. Quando Sabiá se vai, para
aqui, para acolá, a cuidar sempre de quem ama, o alívio se impõe. Chego a
cantarolar: “Me deixe em paz, que eu não suporto mais.” Como é bom ser livre. Não
gosto de andar. Acho toda atividade física imbecil. Sou inútil assumido. Gosto
de cadeiras e poltronas. Vade retro,
Sabiá.
Minutos passam. Meia hora depois de Sabiá partida, cansei da paz
ilusória. Volta: minha passarinha. Sem você, nem em pensamento vôo.
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