sexta-feira, 10 de março de 2017

CHÁ DAS CINCO: LEMINSKI




DESENCONTRÁRIOS



Mandei a palavra rimar,

ela não me obedeceu.

Falou em mar, em céu, em rosa,

em grego, em silêncio, em prosa.

Parecia fora de si,

a sílaba silenciosa.



Mandei a frase sonhar,

e ela se foi num labirinto.

Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.

Dar ordens a um exército,

para conquistar um império extinto.

*** 



Amor, então,

também, acaba?

Não, que eu saiba.

O que eu sei

é que se transforma

numa matéria-prima

que a vida se encarrega

de transformar em raiva.

Ou em rima.


( Paulo Leminski )

***
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