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Domingo
de sol intenso, céu de brigadeiro, nenhuma nuvem ameaçadora à vista. Piscina limpa, convidados prestes a chegar. Só
faltava recebê-los e colocar a carne para assar. Ah, sim: antes, era preciso
buscar pãezinhos e potes de sorvetes da marca tal, sabor tal, além de cigarros.
O homem da casa foi à padaria. Meia hora depois, aperitivo tomado, missão
cumprida, estava de volta com as compras.
Para
seu espanto, encontrou todo mundo – mulher, filhos e convidados – em pânico,
menos o verdadeiro “homem” da casa, Nilza, avó do homem da casa, senhora de
setenta e poucos anos, criada na roça, mais objetiva e prática impossível, visivelmente
contrariada com a covardia coletiva. Um rato imenso, saído sabe Deus de onde,
veio do quintal, atravessou a cozinha e todas as fronteiras imaginárias e se
instalou num dos quartos – o do casal – sob um dos criados-mudos.
E
o rato dali jamais arredaria as patas, se dependesse dos homens da casa. Alguém
teve coragem para fechar a porta do quarto. Mas, agora, faltava alguém com
coragem para abri-la e devolver o bicho a seu devido lugar. Ninguém se dispôs a
fazê-lo. Um aparentado teve uma ideia: chamar o irmão, exímio atirador, um ás
com espingarda de chumbinho. O caçador, que morava pertinho, logo ali, foi
recebido com pompas e circunstâncias. Resoluto, carregou a arma, conferiu a
mira, abriu a porta e dali mesmo disparou vários tiros. Furou a parede toda. E
o rato, incólume colosso. A velha olhava aquilo tudo com indisfarçável
irritação. Resolveu dar uma basta à vergonha: foi até a lavanderia, pegou o
rodo e logo avisou: “Saiam da frente, frouxos!”.
De
nada adiantaram o muxoxos insinceros: “Não faça isso, vovó”, “A senhora não me
apronte uma coisa dessas”, “O bicho é perigoso”. “Vou buscar munição”, dizia o
atirador fracassado. “Calem a boca”, a avó do homem da casa colocou ponto final
na tragicomédia: entrou no quarto, não gastou dois minutos para acabar com o
inimigo. Abriu a porta, pediu a pá, recolheu os restos mortais do rato e os
colocou num saco de lixo.
--
Há um homem aqui pra lavar o piso? Ou vou ter que fazer isso também?
Teve,
todo mundo cheio de dedos e nojo. Sabem como é?
Orlando
Silveira – janeiro de 2014 – atualizado em março de 2017
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DE VOLTA AO RIO
Sem
se dar conta, Robertinho transformou-se num chato absoluto.
Passou,
ainda que inconscientemente, a atribuir aos outros o motivo
único de
suas frustrações. Não raro, em geral após a terceira talagada,
virava
refém de uma ira nada santa, mas súbita.
Por Orlando Silveira
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