quinta-feira, 9 de março de 2017

QUASE HISTÓRIAS: O VERDADEIRO “HOMEM” DA CASA


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Domingo de sol intenso, céu de brigadeiro, nenhuma nuvem ameaçadora à vista.  Piscina limpa, convidados prestes a chegar. Só faltava recebê-los e colocar a carne para assar. Ah, sim: antes, era preciso buscar pãezinhos e potes de sorvetes da marca tal, sabor tal, além de cigarros. O homem da casa foi à padaria. Meia hora depois, aperitivo tomado, missão cumprida, estava de volta com as compras.

Para seu espanto, encontrou todo mundo – mulher, filhos e convidados – em pânico, menos o verdadeiro “homem” da casa, Nilza, avó do homem da casa, senhora de setenta e poucos anos, criada na roça, mais objetiva e prática impossível, visivelmente contrariada com a covardia coletiva. Um rato imenso, saído sabe Deus de onde, veio do quintal, atravessou a cozinha e todas as fronteiras imaginárias e se instalou num dos quartos – o do casal – sob um dos criados-mudos.

E o rato dali jamais arredaria as patas, se dependesse dos homens da casa. Alguém teve coragem para fechar a porta do quarto. Mas, agora, faltava alguém com coragem para abri-la e devolver o bicho a seu devido lugar. Ninguém se dispôs a fazê-lo. Um aparentado teve uma ideia: chamar o irmão, exímio atirador, um ás com espingarda de chumbinho. O caçador, que morava pertinho, logo ali, foi recebido com pompas e circunstâncias. Resoluto, carregou a arma, conferiu a mira, abriu a porta e dali mesmo disparou vários tiros. Furou a parede toda. E o rato, incólume colosso. A velha olhava aquilo tudo com indisfarçável irritação. Resolveu dar uma basta à vergonha: foi até a lavanderia, pegou o rodo e logo avisou: “Saiam da frente, frouxos!”.

De nada adiantaram o muxoxos insinceros: “Não faça isso, vovó”, “A senhora não me apronte uma coisa dessas”, “O bicho é perigoso”. “Vou buscar munição”, dizia o atirador fracassado. “Calem a boca”, a avó do homem da casa colocou ponto final na tragicomédia: entrou no quarto, não gastou dois minutos para acabar com o inimigo. Abriu a porta, pediu a pá, recolheu os restos mortais do rato e os colocou num saco de lixo.

-- Há um homem aqui pra lavar o piso? Ou vou ter que fazer isso também?

Teve, todo mundo cheio de dedos e nojo. Sabem como é?

Orlando Silveira – janeiro de 2014 – atualizado em março de 2017



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Sem se dar conta, Robertinho transformou-se num chato absoluto. 
Passou, ainda que inconscientemente, a atribuir aos outros o motivo 
único de suas frustrações. Não raro, em geral após a terceira talagada, 
virava refém de uma ira nada santa, mas súbita. 
Por Orlando Silveira


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