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SÓ
RESTOU OCUPAR ESCOLAS
POR MARY
ZAIDAN
BLOG
DO NOBLAT
06/11/2016
- 01h25
Ocupação
de 364 escolas, pouco mais de 2,2% dos 16 mil locais em que se realizam provas do Enem neste fim de
semana, adiamento do exame para 240 mil
dos 8,6 milhões de inscritos. Essa é
a dimensão do movimento que se tornou bandeira única das correntes de esquerda
que se viram à margem da preferência popular nas eleições municipais, e que,
sem qualquer escrúpulo, jogam em cima dos jovens – estudantes ou não – o peso
da derrota.
O
não à PEC do Teto, já aprovada na Câmara e perto de ser votada pelo Senado, e à
medida provisória que muda o ensino médio, é a principal frente de batalha para
esse grupamento. Nas escolas ocupadas, na mídia e no Congresso. Se elas vingarem,
afirmam os arautos da esquerda, a educação será definitivamente enterrada.
E
o dizem como se o país tivesse alguma excelência a exibir na área, com
resultados – especialmente no ensino médio – cada vez piores. No aprendizado e
na frequência.
Melhor
talvez fosse o envio de um projeto de lei ao de uma MP para estabelecer
mudanças no currículo, mas a urgência de alterar o quadro de fracasso do ensino
aos jovens justifica a celeridade. Obriga o Congresso, que há anos protela esse
debate, a acelerar suas considerações.
A
luta contra a PEC e a MP está na boca dos dirigentes de entidades estudantis e
dos autointitulados movimentos populares. Aparece em letras garrafais no site
do PT e no discurso do ex Lula, repetido esta semana em Buri, interior de São
Paulo. “A primeira coisa que ele [ministro da Educação] propôs é uma PEC 241,
para cortar gastos da educação, e uma reforma do ensino médio, que vai piorar
muito a situação”.
Como
é useiro e vezeiro, são falas sem qualquer lastro. O ministro não propôs PEC
alguma, e Lula, claro, sabe disso. E a MP da reforma do ensino médio está longe
de piorar o que já é para lá de ruim.
A
PEC 241 aprovada pela Câmara e transformada em PEC 55 no Senado não diminui um
único centavo da saúde, com 15% do
orçamento, nem da educação, com 18%,
atrelando os reajustes das duas áreas à inflação. Tratadas como exceção, ambas
estão aptas a receber incrementos, mas não estão sujeitas a reduções percentuais
na participação orçamentária. Em suma, podem ter mais ou menos recursos
dependendo da capacidade de recuperação da economia do país.
MARY ZAIDAN (FOTO: TWITTER) |
Nada
parecido com os cortes que a então presidente Dilma Rousseff se viu obrigada a
fazer depois de impor ao país a pior recessão da História. Encalacrada por
gastar muito mais do que podia, dois meses antes de ser deposta, Dilma anunciou
cortes severos: R$ 2,3 bilhões na
Saúde e R$ 4,2 bilhões na Educação,
pasta que já sofrera tesourada de R$
10,5 bilhões no ano anterior. No Congresso, as medidas receberam apoio
irrestrito do PT e aliados da época e até da oposição.
Em
nenhuma das duas ocasiões estudantes foram convocados a se manifestar. Não
viram na redução orçamentária qualquer risco para a educação. Não piaram.
Prova
irrefutável de que boa parte não passa de conveniente massa de manobra, usada
para calar ou agir, dependendo das circunstâncias.
Como
em qualquer protesto, há méritos a serem registrados: jovens lideranças surgem.
Algo que pode refrescar o ambiente desde que a fúria em cooptá-las não seja tão
intensa. Por vezes desrespeitosa, chegando a criar cenas de constrangimento.
Historicamente,
a esquerda sempre foi eficaz na doutrinação. Talvez creia que ainda é capaz de
fazê-lo. Mas o repertório da utopia que tanto sucesso fez no passado foi
substituído por ideologias cambaleantes, não raro sustentadas em premissas
falsas, ultrapassadas. No fascismo e em populismo barato. E ainda que povoem
sonhos, tornam-se absurdamente deseducadoras quando pregam que governos podem e
devem gastar mais do que arrecadam.
Para
o bem geral da nação, a maioria -- até os mais jovens – não se engana. Sabe (e
as eleições municipais demonstram isso) que dinheiro não dá em árvore e que
nada é de graça: se governos dão alguma coisa a cobrança sempre vem. E alta.
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