AMARILDO |
NOVE “VERDADES”
QUE ESTA ELEIÇÃO DESMENTE
Sem um direito só pra todo mundo, não tem saída
PUBLICADO NO VESPEIRO.COM
[1]
“IDENTIFICAÇÃO BIOMÉTRICA E RAPIDEZ
DE APURAÇÃO SÃO PROVAS DO
AVANÇO
DA DEMOCRACIA BRASILEIRA”
É exatamente o contrário. Aqui o eleitor só entra em campo depois do
jogo jogado para dizer sim ou não aos escolhidos dos “caciques” dos partidos.
Em democracias de verdade, como a americana, a suíça e outras, aproveita-se
toda e qualquer eleição para que o eleitor decida literalmente tudo. Junto com
presidentes, legisladores ou prefeitos, ele elege diretamente os funcionários
públicos sem função exclusivamente política, tais como xerifes, policiais,
promotores, diretores de escolas públicas, etc.; vota leis de iniciativa
popular; referenda ou derruba leis do Legislativo; autoriza ou não impostos
novos ou aumentados; aprova ou não a contratação de dívida; confirma ou não o
mandato do juiz da sua comarca; vota o “recall” ou não de funcionários eleitos
na eleição anterior. Para a eleição da semana que vem, 162 temas adicionais, 71
propostos por abaixo-assinados de cidadãos comuns, foram certificados em 35 Estados para constar das cédulas
pedindo decisão dos eleitores de Trump ou Hillary. Por isso 30 milhões deles já receberam suas
cédulas com um mês de antecedência e as vão enviando preenchidas pelo correio.
Por isso demora para apurar eleições em democracias de verdade.
[2]
“A POLÍTICA BRASILEIRA NÃO SE RENOVA
PORQUE BRASILEIRO NÃO SABE VOTAR”
Essa afirmação toma o efeito por causa. O povo elege o de sempre
porque só consegue autorização para se apresentar como candidato quem se compõe
com os donos dos partidos. Por isso reforma política pra valer inclui
necessariamente um ponto-chave da que os americanos fizeram lá atrás. Tornar as
eleições municipais apartidárias para quebrar as pernas dos “caciques” (cujo
poder passaria do controle dos 5.570 potenciais “currais” municipais de hoje
para apenas 27 estruturas estaduais) e abrir as portas da política à entrada de
sangue novo. Qualquer um pode candidatar-se a prefeito ou vereador sem pedir
licença a ninguém.
[3]
“HÁ PARTIDOS VITORIOSOS NESTA ELEIÇÃO”
Esta foi a eleição do “não”. “Eu não voto mais”, “eu não voto no
PT”, “eu não voto em ladrão”, “eu não voto em político”, etc… O mais foi
consequência do controle da portaria do “Sistema”. Votou-se no que sobrou dos
“nãos”, já era conhecido ou pôde botar a cara na TV pra mostrar que existia, o
que vale dizer estar num partido grande e velho. Ponho a mão no fogo como 99% dos eleitores não sabem em que
partido votaram, ou, se lembram, não sabem nem a tradução da sigla daquele em
que acabaram votando, mesmo dos tradicionais.
[4]
“A IDEOLOGIA MOVE A POLARIZAÇÃO
ESQUERDA X DIREITA”
Nem os presidentes dos partidos conseguem definir esquerda e
direita. Mas um grande divisor de águas aparece nítido no Brasil, como no resto
do mundo, especialmente o latino: ser contra ou a favor da austeridade fiscal.
Só que não é uma fronteira ideológica, é fisiológica: de um lado pena a massa
que paga a conta, trabalhando dobrado e ganhando a metade; do outro se entrincheira
a “casta” que é paga pela conta, trabalhando a metade e ganhando dobrado. É
essa que, sentindo-se agora ameaçada, quebra-quebra e queima pneus por aí
porque as TVs lhe deram a dica de que esse é o jeito de o seu “dane-se a
miséria nacional, ninguém toca no meu!” alcançar mais do que as esquinas que já
não consegue encher de gente e soar como o contrário do que é.
[5]
“É IMPOPULAR ENCARAR DE FRENTE
OS PROBLEMAS MAIS VELHOS E ÓBVIOS DO BRASIL”
Se há algo que ficou bem definido nesta eleição, é que quanto mais
assertivo foi o candidato em relação a eles – necessidade de ajuste,
privatização, desmonte da corrupção de sindicatos e partidos com dinheiro de
imposto, fim da chantagem trabalhista e dos “marajalatos” –, mais fulminante
foi sua eleição e a distância aberta em relação ao oponente, não importando as
“tradições” das praças envolvidas. João Doria e Nelson Marchezan são os
exemplos mais visíveis, mas não os únicos.
[6]
“EXISTE UM PRECONCEITO DE GÊNERO”
O número de prefeitas e vereadoras eleitas caiu, apesar da “cota” de
30% de candidatas imposta por aquele
mesmo pessoal que, conforme a hora, nos diz que “não existe gênero” senão o que
cada um escolhe para si. Quem escolheu não eleger seu prefeito ou vereador só
por esse atributo foi a metade feminina do eleitorado brasileiro, ou, se
quiserem, os 100% “sem gênero
definido pela natureza” que acabam de aprender, com Lula e Dilma, que pôr
alguém para cuidar da coisa pública só por ser mulher é um tipo de oportunismo
para enganar trouxa que em geral acaba em desastre.
[7]
“LULA AINDA É UMA FORÇA PARA 2018”
Nesta campanha, “ter apoio de Lula” passou a ser a “denúncia”
atirada por candidatos “de esquerda” contra candidatos “de esquerda”. Em quem
colou não sobrou nada…
[8]
“BASTA MELHORAR A GESTÃO PRO BRASIL IR PRA FRENTE”
Foi-se o tempo! Agora o setor público está que não tem nem pra lavar
o chão do IML, como no Rio, e a economia privada, em choque hemorrágico, não
tem mais com que se reerguer, mas a reforma da Previdência de que se fala não
toca nos “marajás”, só põe dinheiro no caixa no futuro distante, e a PEC 241
nem menciona o rombo de Estados e municípios. A briga em torno de quem vai
pagar essa conta (na qual as denúncias da Lava Jato serão as armas nos
bastidores) nem começou ainda.
[9]
“O BRASIL É UMA DEMOCRACIA”
Da democracia não temos nem o elemento definidor, que é o império da
lei igual para todos. Na raiz do presente desastre estão os privilégios
legalizados e direitos “adquiridos” que “foros especiais” podem tornar até
hereditários, como na Idade Média. Sem um direito só pra todo mundo não tem
saída. E pra chegar lá tem de pôr o povo no poder, o que se faz submetendo os
eleitos aos eleitores antes e depois da eleição, com prévias transparentes para
escolha dos candidatos e “recall” para a troca dos que, eleitos, “apresentarem
defeito”. Sem isso “O Sistema” continuará para sempre indomesticável,
cavalgando impunemente o lombo do povo.
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