VECTOR ART ILUSTRATION |
Toninho Veludo entrou no bar do Carneiro mais saltitante e exibido que nunca – e ele sempre estava saltitante e exibido, era sua condição natural. Mostrou a todos o celular novo que acabara de comprar, dos mais modernos. Do nada, sem pedir licença, puxou uma cadeira e sentou-se à mesa, entre o Velho Marinheiro e Ananias. Colocou um braço sobre o ombro do nosso Lobo do Mar. E disparou:
-- Vou fazer uma selfie
com o senhor. Adoro o senhor. Depois, faço uma selfie com você, Ananias. Por
fim, farei uma selfie do nosso grupo...
-- Fazer o quê?
-- U-ma sel-fi-e.
-- Só não lhe dou uma
garrafada na cabeça em respeito ao seu pai, que morre de vergonha de seus
maneirismos. Você vai fazer isso com gente de sua laia, vagabundo – retrucou
nosso Lobo do Mar.
-- Nossa! Que
agressividade! O senhor sabe o que é sel-fi-e?
-- Não sei nem quero
saber. Partindo de você só pode ser bandalheira.
Ananias resolveu
intervir, na tentativa de serenar os ânimos do Velho Marinheiro:
-- Selfie está na moda,
é um autorretrato. As pessoas tiram fotos delas próprias, sozinhas ou acompanhadas,
e divulgam pela internet, nas redes sociais. Não tem nada demais.
-- Quer dizer que Veludo
quer tirar uma fotografia me abraçando e ainda mostrar pra todo mundo? E você
acha que não tem nada demais, Ananias? Não me faltava mais nada!
-- Todo mundo faz –
tentou justificar-se o autorretratista. Em vão.
-- Pois fique sabendo de
uma coisa, seu Veludo: o que você faz eu nunca fiz, não faço e jamais farei. Não
ouse apertar botão algum. Tire um retrato com Ananias, pelo visto ele também gosta
dessas coisas. Papo encerrado. Carneiro, mais tarde eu volto, pra pagar a
conta.
E lá se foi o Velho
Marinheiro, pisando duro, desconjurando o mundo moderno.
(agosto/2014)
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