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CRÔNICA DO NASCIMENTO
(Por Otávio Nunes) Uma colega de lida diária, aqui na redação onde trabalho, trouxe ao
mundo mais um brasileiro. Estas maldigitadas são em homenagem a este pimpolho,
que certamente herdará a singeleza materna.
Convivo diariamente e noturnamente com meus lados otimista e pessimista.
Ora um se sobrepõe ao outro. Às vezes, até empata. Mas aviso logo: não tenho
problemas de dupla personalidade, nem sou psicopata de filme americano. Apenas
coordeno, de forma hercúlea e disciplinada, o embate entre a esperança e o
ceticismo. Vamos ao meu primeiro lado.
O mundo torna-se a cada dia mais insano. O operário é substituído
pelo robô e o neo-liberalismo propõe flexibilização das leis e menos influência
do Estado na vida do cidadão, belo discurso para jogar a carteira profissional
na obsolescência. Podemos ser encontrado em qualquer lugar a qualquer momento,
pelo celular ou e-mail. Antes só a polícia conseguia tal façanha.
A Internet toma o lugar dos livros, minha assinatura deixa de ser
manuscrita e vira senha eletrônica, aposentando definitivamente meu talão de
cheques. A imprensa abandona a reportagem e publica notícias de agências ou
releases de assessoria e o jornal do dia já é capaz de sair no próprio dia.
Os partidos se parecem mais a cada eleição. O revolucionário perdeu
a esperança. O de esquerda tornou-se social-democrata e este último virou
liberal à moda lockiana. Só o conservador continua fiel a seus princípios.
Minha querida MPB, que acompanho desde quando Chico e Vandré
ganharam o festival da Record, some das rádios e das lojas de discos. Estas,
por sua vez, também desaparecem. Cinemas? Só nos shoppings, esta praga do
consumismo americano, que acaba com o comércio de rua e leva bairros inteiros à
decadência urbana. Até o gerúndio (praga II) “está tomando” o lugar do presente
do indicativo.
OTÁVIO NUNES É JORNALISTA |
Agora chega. Abandono o apocalipse e adoto as alvíssaras. O mundo
sempre esteve em constante mudança e não podemos nos sentar no banco da estação
nostalgia à espera de um trem que passou. Acompanhemos, portanto, as novidades
e nos adaptemos às mudanças sem perder a essência.
O mundo está aquém da perfeição e o ser humano, anos luz da
tolerância. Mas é aqui, neste planeta, que viveram nossos ancestrais e será o
lar dos que estão por chegar.
Garoto, rebento, guri, pedacinho de gente, bem-vindo seja. Você
tornará este mundo melhor.
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