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AMOR
E SABOR
O
convidado conhecia a alta culinária de Madri e Paris.
Mesmo
assim, repetiu três vezes minha canjica com amendoim
POR WALCYR CARRASCO
EPOCA.GLOBO.COM
08/11/2016 - 08h00
Comfort food.
Não gosto muito de títulos em inglês. Mas, como os americanos gostam de dar
rótulos para tudo, vai lá. A melhor tradução para comfort food seria “comidinha da mamãe” ou algo assim. Em um mundo
onde o sal do Himalaia virou moda e às vezes a gente mastiga algo inexplicável
num restaurante, surgiu um espaço, há anos, para a comida que aquece o coração.
A culinária que remete à infância, às emoções caseiras. Faz tempo, eu estava
lendo um livro de culinária de uma crítica americana (sim, todo guloso não só
come, como também lê receitas! Pior: dizem que ler receita engorda. Mas isso é
outra história). De A a Z, a cada letra, ela fazia uma pequena crônica e dava a
receita do prato relacionado com aquela memória. A tantas, descrevia como era
bom levar sanduíche de ovo frito para a escola quando criança. Levava no bolso
de trás e no recreio comia o sanduíche amassadinho. Também sou fã de sanduíche
de ovo frito. Igualmente, levava para a escola quando criança.
Lembro
do caderno de receita que minha mãe mantinha. Esse caderno sumiu depois de seu
falecimento. Que pena. Mas comprei um bom substituto: o livro Dona Benta. Somente um livro como Dona Benta tem aquelas receitas
antigas, misturadas, de estrogonofe a manjar. Há alguns anos, o presidente de
um grande banco vinha jantar em casa pela primeira vez. É um homem que
frequenta presidentes, ministros, vai para Nova York como eu vou para a
esquina. Deu aquele desespero. O que servir? Então pensei na história de vida
dele. Na ascensão profissional árdua, vindo do interior de São Paulo. Não tive
dúvidas. Fiz um prato tradicional, camarão na moranga. E, de sobremesa, manjar
branco com vinho tinto. Uma receita da minha avó e de minha mãe. Em vez de usar
ameixas na calda, vinho tinto com canela. Quando viu o manjar, os olhos dele
arregalaram.
–
Eu só comi esse manjar quando era criança.
–
Sirva-se – disse eu vitorioso.
Foi
um pedaço. Depois dois. Quando chegou ao quarto, propus:
–
Você não quer levar para casa?
–
Oh, não, não. Bem...
Chamei
minha funcionária.
–
Traz um Tuppeware!
Pronto.
Lá se foi o manjar, embalado nessas vasilhinhas práticas. O jantar, que deveria
ser algo formal, terminou nessa confraternização caseira e deliciosa. Gostou?
Leva para casa!
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A
culinária afetiva simplesmente emociona. A loucura por regimes e por manter um
corpinho definido desvincula as pessoas dessa culinária em que amor se mescla
com sabor. Tenho vários amigos que só comem frango, querem ter barriguinha de
tanque. Eu seria muito infeliz se vivesse à base de frango! Mas também me
sentiria solitário. O feijão da mamãe faz falta para todos nós, em algum
momento da vida. Ou a sopa quando se fica gripado.
De
alguns anos para cá, pessoas criativas perceberam esse nicho de mercado.
Surgiram as cadeias que vendem bolos comuns, tipo os da vovó, a preços
acessíveis. Há quem faça pudins. A venda de brigadeiros explodiu. Existe doce
que mais remeta à infância que brigadeiro? Como boa parte das mães hoje em dia
trabalha fora, elas encontraram, nos doces de seu passado, algo para oferecer
aos filhos. Mais tarde eles se lembrarão do “bolo da mamãe”. Embora tenha sido
comprado. O que vale é a intenção.
A
comida afetiva é sempre uma certeza de sucesso ao receber alguém. Há algum
tempo fiz um jantar para um diretor de cinema espanhol. Outra vez, o terror. O
que servir? Tomei a decisão:
–
Canjica com amendoim.
Acharam
doidice. Uma coisa tão simples? Para alguém que conhece a alta culinária de
Madri e Paris?
Botei
na mesa. Quando experimentou a primeira colherada, os olhos da mesa se cravaram
nele. Fez uma expressão de surpresa. A mistura de sabores da canjica com
amendoim lhe pareceu absolutamente exótica. Foram três pratos. E não mandou ver
o quarto porque ficou constrangido, achou que podia parecer guloso. Eu só
expliquei.
–
Quis fazer um prato que comia quando criança.
Muitas
vezes, com tantas falsas sofisticações, botamos num pedestal qualquer picareta
estrangeiro (existem bons chefs
vindos do exterior vivendo aqui. Só critico a tendência a endeusar qualquer um
que tenha sobrenome estrangeiro). Ou um modismo culinário. Mas não respeitamos
aquilo que está em nossa memória. A comida de nossas mães e avós. Já estou
decidido. A próxima pessoa importante que for jantar em casa receberá um prato
de arroz com dois ovos fritos. Gema molinha. É capaz de o convidado chorar de
emoção. Quem não gosta de ovo frito?
WALCYR
CARRASCO é jornalista, colunista da
revista Época, autor de livros, peças teatrais e novelas de televisão
Olá walcyr carrasco eu sou Tiago Cruz de Brito cazeiro luta eu quero gravar morde assopra volta em brevemente estreia estou nesta programa gostava desta novela morde assopra trailer eu vim despedir um favor eu tenho um desenho para ti aline Peixoto atriz marcia eu sou tuas amigas quero Dar um abraço grande para mim adoro te
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