MARCELO FREIXO/GGN |
A
PREFEITURA DE FREIXO
Se
algum mérito há no seu programa, está no fato de estar
sendo sincero, não estar
enganando a ninguém.
Quem votar nele sabe exatamente para onde a cidade
irá
caminhar – e terá saudades dos tempos
em que estava apenas falida
POR
RUY FABIANO
No Blog
do Noblat
Em15/10/2016
- 01h25
No
momento em que o país não sabe o que fazer com o rombo orçamentário da União,
de R$ 170 bilhões, Marcelo Freixo,
candidato do Psol à prefeitura do Rio – estado que já se declarou oficialmente
falido –, teve uma ideia: aumentar o gasto público.
Isso
mesmo. Propõe, em seu programa de governo, aumentar o tamanho da prefeitura do
Rio, criando mais seis secretarias e
subsecretarias, novas empresas públicas – entre elas, um Banco Municipal de Desenvolvimento
Econômico e Social (BMDES) -, uma empresa de transportes públicos, estatizando
o setor, um canal de televisão e conselhos, muitos conselhos.
Haveria
até um Conselho de Desenvolvimento Rural – quem sabe para tratar das lavouras
de Ipanema e Copacabana, instâncias de imensa importância para o agronegócio
nacional.
Pelo
visto, falta-lhe, já na coordenação de sua campanha, um conselho essencial: que
aprecie as contas públicas de sua cidade. Quanto a isso, ocorreu-lhe apenas
outra ideia, nada original: aumentar os impostos, revendo o cálculo do valor
venal dos imóveis, “que desde 1999 é corrigido apenas pela inflação”.
Não
é só: promete investir na “democratização da comunicação”, eufemismo para
intervir na liberdade de imprensa, algo que o PT, mesmo detendo o poder
federal, não conseguiu – e que, felizmente, está fora do alcance de um simples
prefeito.
Mas
promete criar, não se sabe com que recursos, um fundo para distribuição de
verbas a rádios comunitárias, além de financiamento a mídias populares e “meios
de comunicação alternativos”. É possível que pense estar disputando a
prefeitura de Nova York ou de Berlim.
Seu
programa de governo, pela distância a que se coloca da realidade, é quase uma
confissão de que sabe que não vai vencer. É ativismo ideológico puro. Promete
ainda mais concursos públicos, eleições para diretorias de escolas públicas,
supressão do regime de mérito para os professores e a reestatização do
Maracanã.
É
exatamente a agenda que levou o país à falência, a do Estado obeso, o que
reforça a tese de que a eleição no Rio não se limita à escolha de nomes (os
dois são bem ruins), mas de rumos.
RUY FABIANO É JORNALISTA E ESCRITOR |
O
outro Marcelo, o Crivella, não chega a ser grande coisa (para dizer o mínimo),
mas sua retaguarda é menos predatória. Para começo (e fim) de conversa, exibe
noção mais realista do limite dos poderes de uma prefeitura – sobretudo de uma
prefeitura falida.
Não
pretende fazer dela uma trincheira ideológica, na contramão do que as eleições,
no primeiro turno – e, antes delas, as diversas manifestações de rua -,
sinalizaram.
Na
vida real, onde Freixo não habita, debate-se no Congresso uma proposta de emenda
constitucional (a PEC 241), que limita o teto dos gastos públicos por pelo
menos uma década. Não é uma proposta que agrade a ninguém, mas que decorre de
uma realidade herdada. Na UTI, onde está a economia do país, não se costuma
servir banquetes aos pacientes. A medicação é sempre amarga.
O
pessoal do Freixo, o mesmo que, com as ideias de seu programa, levou a economia
do país a um estado terminal, protesta contra a emenda. Mas, como
contrapartida, propõe mais veneno ao paciente – mais do mesmo. Reclama que
faltará verbas para a educação e saúde, esquecido de que já está faltando – e,
entre outros motivos, por propostas análogas às que ele oferece.
Se
algum mérito há no seu programa, está no fato de estar sendo sincero, não estar
enganando a ninguém. Quem votar nele sabe exatamente para onde a cidade irá
caminhar – e terá saudades dos tempos em que estava apenas falida.
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