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NO INÍCIO, ALCKMIN AVALIAVA QUE MARTA
E RUSSOMANO DISPUTARIAM SEGUNDO TURNO
Sem Doria, o candidato tucano seria Andrea Matarazzo,
amigo de Serra. E os aliados de Alckmin o convenceram
de que não seria uma boa ideia oferecer a Serra a chance
de acoplar às suas pretensões eleitorais a máquina
da maior prefeitura do país
Por Josias de Souza
Em UOL - 02/10/2016 - 03:10
Nem Geraldo Alckmin apostava que o candidato do PSDB à prefeitura de
São Paulo, João Doria, teria o desempenho fulgurante que as pesquisas
prenunciam. Na largada da campanha, o governador tucano avaliava que a eleição
na capital paulista seria definida num segundo turno entre Celso Russomano e
Marta Suplicy. Ele só apadrinhou Doria para bloquear os planos de José Serra,
um de seus rivais na disputa pela vaga de presidenciável do PSDB em 2018.
Sem Doria, o candidato tucano seria Andrea Matarazzo, amigo de
Serra. E os aliados de Alckmin o convenceram de que não seria uma boa ideia
oferecer a Serra a chance de acoplar às suas pretensões eleitorais a máquina da
maior prefeitura do país. Se Matarazzo realizasse o sonho de se tornar
prefeito, seu triunfo seria uma vitória de Serra. Se protagonizasse um fiasco,
sua derrota seria associada a Alckmin.
Fugindo ao seu estilo, sempre acomodatício, Alckmin achou melhor
acionar os cotovelos para ajudar Doria a prevalecer sobre Matarazzo nas prévias
tucanas. Empregou tanta força que empurrou Matarazzo para o PSD de Gilberto
Kassab. Também amigo de Serra, Kassab cuidou de persuadi-lo a fazer de
Matarazzo o vice de Marta Suplicy, cuja passagem pela prefeitura ele chamava de
“nefasta”.
No final de agosto, Doria amealhava 5% no Datafolha. Chegou à véspera
da eleição com 38% —ou 44% se computados apenas os votos válidos. A despeito
das dúvidas do governador e do nariz torcido da cúpula do tucanato, as legendas
que apostam no projeto Alckmin-2018 providenciaram o tempo de propaganda
televisiva de que Doria necessitava para fazer seu proselitismo. Na origem,
tomaram parte dessa articulação o PSB do vice-governador Márcio França, o DEM,
o PPS e o PV.
Alckmin não chega a ser um portento em termos de popularidade.
Pesquisas internas indicam que seu governo é aprovado por algo como 28% dos
eleitores da capital paulista. Mas seus aliados sustentavam, desde o início da
campanha, que o governador não precisaria nem transferir todo o seu prestígio
para carregar Doria até o segundo turno.
Estimava-se, então, que algo como 19% seria o bastante para levar o
candidato ao round final. E apostava-se que Doria superaria esse patamar. Numa
entrevista à Folha, veiculada em 13 de agosto, o vice-governador Márcio França
fizera uma aposta. O repórter perguntou: Dória vai crescer com a TV? E ele:
“Nenhuma dúvida. O Alckmin é um conceito político. […] Parte de 25%.”
JOSIAS DE SOUZA É JORNALISTA |
Um detalhe monetário ajudou a soldar uma coligação partidária ao
redor de Doria: milionário, o candidato revelou-se, por assim dizer,
autofinanciável. Um diferencial portentoso numa eleição em que as doações
eleitorais privadas estão proibidas.
Com televisão e dinheiro, Doria usou sua intimidade com as câmeras
para construir uma fábula. Colocou em pé o enredo do antipolítico que se dispõe
a fazer para os paulistanos o favor de introduzir na prefeitura a eficiência de
uma gestão à moda empresarial. Os adversários de Doria, também capazes de tudo,
revelaram-se incapazes de todo.
Sem uma contestação à altura, o discurso de Doria encantou um pedaço
do eleitorado de São Paulo. É mais uma evidência de que, com uma boa dose de
marketing, o eleitor brasileiro acredita até em ovo sem casca.
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