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-- Ananias, Ananias: o que mais se faz nesse mundo é mentir. Todos
nós, uns mais, outros um pouco menos, mentimos É uma lástima, porque, no mais
das vezes, não mentimos para os outros, mentimos para nós mesmos.
Ananias, nosso repórter em fim de carreira, não custou a perceber
que o Velho Marinheiro estava a fim de “filosofar” – a seu modo, claro. Pediu
uma nova rodada para Carneiro e escancarou os dois ouvidos:
-- Veja Ananias: antes de você chegar, tive que aturar a falação de
um sujeito que nem sei quem é. Só o conheço de vista. Encostado no balcão não
deixou por menos: começou a dizer que, se o governo diminuísse impostos e taxas,
ninguém sonegava; que, se a companhia de água e esgoto cobrasse menos, ninguém mais
alterava o medidor; que, se a empresa de tevê a cabo cobrasse uma taxinha, ninguém
faria “gato”... Foram tantos “quês” e “sês” que perdi a conta. Só não o mandei
para aquele lugar, porque o infeliz – acho eu – acredita em suas mentiras.
-- Mas o senhor não acha que ele está certo? Se o preço dos serviços
fosse mais baixo, todo mundo...
-- Todo mundo o que, Ananias? Se a empresa de tevê a cabo não
cobrasse nada, depois de meses, muitos exigiriam mesada da companhia. Afinal,
estão lhe fazendo o “favor” de assistir à sua programação. A verdade é que
ninguém gosta, jamais gostou ou gostará, de pagar imposto ou taxa. Por isso,
imposto chama-se imposto.
-- Acho que o sujeito está certo. Os impostos e as taxas são abusivos, Velho Marinheiro. O serviço prestado é uma porcaria...
-- Eu sei. Só que a prosa é outra, Ananias. Quer mudar de assunto?
-- Não, não.
-- Veja o caso dos políticos. Todo mundo desce a pua, com razão, nesses
vagabundos. Além de ladrões e incompetentes, são mentirosos incorrigíveis. Mas
eu lhe pergunto: que chance tem um candidato que, durante a campanha, fale a
verdade, que se declare a favor de medidas impopulares, mas necessárias?
Nenhuma. Ninguém gosta de ouvir a verdade, por isso se mente tanto.
-- Há controvérsias.
-- Ananias: alguém escreveu algo mais ou menos assim: “a gente não
presta; às vezes, melhora, mas logo passa.” Não me lembro do autor.
-- Autora. Lygia Fagundes Telles, que foi indicada para concorrer
pelo Brasil ao Nobel de Literatura desse ano.
-- Ananias: você é um sabichão. Pena que seja tão crédulo. (OS)
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