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A AUTOFAGIA TUCANA
POR RUY FABIANO
BLOG DO NOBLAT
05/11/2016 - 01h25
A derrota do PT e seus satélites – Psol, PCdoB e Rede - nas eleições
municipais devolveu ao PSDB o protagonismo na cena política nacional. Um
protagonismo, no entanto, problemático.
O partido padece não da escassez, mas do excesso de estrelas que postulam
a presidência da República em 2018.
No PT, isso jamais foi problema. Lula, desde o início, foi – e
continua sendo – sua liderança única e incontrastável. Seu ocaso, por isso
mesmo, dá ao partido a sensação de orfandade plena.
Já no PSDB, a clássica rivalidade Minas-São Paulo, com Aécio Neves
de um lado e José Serra e Geraldo Alckmin de outro, divide as energias do
partido, enfraquece sua performance e o leva frequentemente a cenas explícitas
de autofagia.
A vitória avassaladora de João Dória, no primeiro turno, para a
prefeitura de São Paulo, é um exemplo disso. O partido foi dividido para as
eleições e só as venceu com a retumbância que se viu em função da ojeriza do
eleitorado ao candidato do PT, Fernando Haddad. Dória capitalizou essa
rejeição. Mas, se dependesse da unidade partidária, não venceria. Os tucanos
paulistas brigam não apenas com os mineiros, mas, sobretudo, entre si.
A convenção que levou Dória a tornar-se candidato pela legenda foi
marcada por contestações furiosas que nem mesmo aos seus adversários petistas o
tucanato costuma dirigir.
Dória é discípulo de Alckmin; sua vitória fortalece as chances do
governador de vir a ser o candidato do partido à presidência em 2018. Alckmin é
rival de José Serra e FHC nessa pretensão.
FHC quer Aécio; Serra quer Serra. Mas Aécio e Serra estão citados na
Lava Jato, o que os enfraquece e sinaliza dias problemáticos. Aécio, ainda por
cima, foi mal nas eleições de Minas. Não elegeu seu candidato à prefeitura de
Belo Horizonte, seu reduto.
Rivais entre si, não hesitarão em se unir para barrar Alckmin, que,
no entanto, foi amplamente vencedor não apenas nas eleições para a prefeitura
da capital, mas em todo o estado.
Alckmin é a direita liberal do partido; Serra, a esquerda; Aécio as
duas coisas, dependendo de para onde sopra o vento. Foi aliado de Lula e Dilma
quando governava Minas e é acusado por Serra de ter negligenciado seu apoio nas
eleições de 2010, em nome de um projeto pessoal de poder. Aécio acusa Serra de
ter feito o mesmo em 2014. É possível que ambos tenham razão.
RUY FABIANO É JORNALISTA E ESCRITOR |
O resultado é que, dada a similitude de ambições, cada qual – Serra,
Aécio e Alckmin – tem seu plano B para 2018.
Serra pode ir para o PPS, Aécio para o PMDB e Alckmin para o PSB,
partido de seu vice, Márcio França, que postula sucedê-lo no governo paulista.
Em São Paulo, o PSB é socialista apenas no nome e não teria dificuldades em
receber um liberal em nome de uma causa maior. Afinal, Lula, em 2002 e 2006,
teve como vice José Alencar, do Partido Liberal, e selou aliança com ninguém
menos que Paulo Maluf.
Na política brasileira, os alhos sempre se deram bem com os bugalhos
quando se tratou de chegar ao poder.
Nenhum dos tucanos cogita, é o que dizem seus aliados, de disputar a
convenção e, na eventualidade de derrota, apoiar o vencedor, conforme o rito
democrático que juram defender. FHC, que sempre posou de árbitro, perdeu essa
autoridade ao não conseguir disfarçar sua preferência por Aécio Neves.
Em tal contexto, não se sabe como o partido se sairá daqui para
frente. Não obstante a multiplicidade de desafios da agenda política nacional
nestes dois anos de governo Temer, nenhum supera a ambição de disputar a
presidência da República. Mais ainda agora, quando se tem por certo que, após o
terremoto petista, o eleitorado se desiludiu do discurso esquerdista e tenderá
para nomes de centro, à esquerda ou à direita, do PSDB ou do DEM,
respectivamente.
É claro que é ainda muito cedo para tais especulações, sobretudo
neste momento em que a Lava Jato começa a fisgar políticos de todos os
partidos. A primeira leva teve PT e parceiros como alvos, em face do notório
protagonismo que tiveram.
Mas a peneira afinou e é provável que sobrem poucos para os
procedimentos de largada de daqui a dois anos.
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