sábado, 5 de novembro de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RUY FABIANO


Briga de rua (Foto: Arquivo Google)
ARQUIVO GOOGLE


A AUTOFAGIA TUCANA

POR RUY FABIANO
BLOG DO NOBLAT
05/11/2016 - 01h25


A derrota do PT e seus satélites – Psol, PCdoB e Rede - nas eleições municipais devolveu ao PSDB o protagonismo na cena política nacional. Um protagonismo, no entanto, problemático.

O partido padece não da escassez, mas do excesso de estrelas que postulam a presidência da República em 2018.

No PT, isso jamais foi problema. Lula, desde o início, foi – e continua sendo – sua liderança única e incontrastável. Seu ocaso, por isso mesmo, dá ao partido a sensação de orfandade plena.

Já no PSDB, a clássica rivalidade Minas-São Paulo, com Aécio Neves de um lado e José Serra e Geraldo Alckmin de outro, divide as energias do partido, enfraquece sua performance e o leva frequentemente a cenas explícitas de autofagia.

A vitória avassaladora de João Dória, no primeiro turno, para a prefeitura de São Paulo, é um exemplo disso. O partido foi dividido para as eleições e só as venceu com a retumbância que se viu em função da ojeriza do eleitorado ao candidato do PT, Fernando Haddad. Dória capitalizou essa rejeição. Mas, se dependesse da unidade partidária, não venceria. Os tucanos paulistas brigam não apenas com os mineiros, mas, sobretudo, entre si.

A convenção que levou Dória a tornar-se candidato pela legenda foi marcada por contestações furiosas que nem mesmo aos seus adversários petistas o tucanato costuma dirigir.

Dória é discípulo de Alckmin; sua vitória fortalece as chances do governador de vir a ser o candidato do partido à presidência em 2018. Alckmin é rival de José Serra e FHC nessa pretensão.

FHC quer Aécio; Serra quer Serra. Mas Aécio e Serra estão citados na Lava Jato, o que os enfraquece e sinaliza dias problemáticos. Aécio, ainda por cima, foi mal nas eleições de Minas. Não elegeu seu candidato à prefeitura de Belo Horizonte, seu reduto.

Rivais entre si, não hesitarão em se unir para barrar Alckmin, que, no entanto, foi amplamente vencedor não apenas nas eleições para a prefeitura da capital, mas em todo o estado.

Alckmin é a direita liberal do partido; Serra, a esquerda; Aécio as duas coisas, dependendo de para onde sopra o vento. Foi aliado de Lula e Dilma quando governava Minas e é acusado por Serra de ter negligenciado seu apoio nas eleições de 2010, em nome de um projeto pessoal de poder. Aécio acusa Serra de ter feito o mesmo em 2014. É possível que ambos tenham razão.
RUY FABIANO É JORNALISTA E ESCRITOR

O resultado é que, dada a similitude de ambições, cada qual – Serra, Aécio e Alckmin – tem seu plano B para 2018.

Serra pode ir para o PPS, Aécio para o PMDB e Alckmin para o PSB, partido de seu vice, Márcio França, que postula sucedê-lo no governo paulista. Em São Paulo, o PSB é socialista apenas no nome e não teria dificuldades em receber um liberal em nome de uma causa maior. Afinal, Lula, em 2002 e 2006, teve como vice José Alencar, do Partido Liberal, e selou aliança com ninguém menos que Paulo Maluf.

Na política brasileira, os alhos sempre se deram bem com os bugalhos quando se tratou de chegar ao poder.

Nenhum dos tucanos cogita, é o que dizem seus aliados, de disputar a convenção e, na eventualidade de derrota, apoiar o vencedor, conforme o rito democrático que juram defender. FHC, que sempre posou de árbitro, perdeu essa autoridade ao não conseguir disfarçar sua preferência por Aécio Neves.

Em tal contexto, não se sabe como o partido se sairá daqui para frente. Não obstante a multiplicidade de desafios da agenda política nacional nestes dois anos de governo Temer, nenhum supera a ambição de disputar a presidência da República. Mais ainda agora, quando se tem por certo que, após o terremoto petista, o eleitorado se desiludiu do discurso esquerdista e tenderá para nomes de centro, à esquerda ou à direita, do PSDB ou do DEM, respectivamente.

É claro que é ainda muito cedo para tais especulações, sobretudo neste momento em que a Lava Jato começa a fisgar políticos de todos os partidos. A primeira leva teve PT e parceiros como alvos, em face do notório protagonismo que tiveram.

Mas a peneira afinou e é provável que sobrem poucos para os procedimentos de largada de daqui a dois anos.

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