PLENÁRIO DA CÂMARA FEDERAL (FOTO: EXAME) |
DE ONDE VÊM AS PALAVRAS:
QUE VAI PÔR O GUIZO NO
PESCOÇO DOS RATOS?
POR DEONÍSIO DA SILVA (*)
Blog do Augusto Nunes
06/11/2016
O provérbio está alterado, mas no fim vocês haverão de entender por
quê.
Na antiga Roma, pontificava um juiz corrupto e ladrão. Ele se
chamava Lucius Antonius Rufus Appius. Não negociava medidas provisórias. Aliás,
medida provisória parece coisa de miss ou de modelo, porque com o tempo as
medidas provisórias são substituídas pelas medidas definitivas, que alteram
completamente o perfil da pessoa.
Esse juiz fazia no tempo dos césares, na distante Roma, o que vários
juízes são acusados de fazer ainda hoje no Brasil. Ele vendia suas sentenças,
assinando-as com as letras iniciais dos três primeiros nomes, mantendo inteiro
apenas o último nome. Ficava assim: L. A. R. Appius, que todos liam larapius.
Quando veio para o Latim vulgar, esta palavra passou a designar o
ladrão. E com este significado chegou ao Português larápio. É o que reza a
lenda etimológica. “Se non è vero, è bene trovato” (se não é verdadeiro, é bem
achado), como diz o provérbio italiano.
Há outras curiosidades acerca das palavras que designam o ladrão.
Uma das mais comuns é gatuno, palavra que veio de gato.http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/search/label/Deon%C3%ADsio%20da%20Silva
Ora, é uma tremenda injustiça com o bichano, um dos mais queridos
animais de estimação. O gato não rouba, ele confisca o que precisa para o seu
sustento. Quem tem gatos em casa, sabe bem quem é que manda. Não são os donos
dos animais. Ao contrário. Quem manda nos donos são os gatos!
Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados quando foi
promulgada a atual Constituição, sempre citava a célebre fábula de Jean de La
Fontaine ao tomar conhecimento de projetos de difícil execução. Ele perguntava
aos parlamentares: e quem vai pôr o guizo no pescoço do gato?
La Fontaine conta que os ratos decidiram em assembleia pôr um guizo
no pescoço do gato, o eterno inimigo. Assim, quando ele se aproximasse, eles
fugiriam a tempo de não serem pegos.
Um rato velho, calado durante toda discussão do projeto, endossou o
plano, mas fez uma pergunta que se tornou famosa: quem vai pôr o guizo no
pescoço do gato?
Pois é, a fábula é do século XVII. Mas nunca foi tão atual. O que
pode ter mudado é que hoje é preciso pôr guizo no pescoço de uma multidão de
ratos. E os gatos são poucos. Eles não são larápios, mas talvez pudessem agir
mais rapidamente.
(*) Deonísio da Silva é professor, escritor e etimologista
PARA LER OUTROS TEXTOS DE DEONÍSIO CLIQUE NO LINK ABAIXO:
Nenhum comentário:
Postar um comentário