terça-feira, 8 de novembro de 2016

NEM COM PALMATÓRIA









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-- Ananias, eu sei que você está impressionado com a violência no trânsito, com o número de pessoas que morrem todos os anos e com a quantidade de tantas outras que ficam com sequelas.  Mas, no trânsito, é impossível saber quem é mais bronco: motoristas ou pedestres. Páreo duro. Não ignoro que almas justiceiras, amigas dos pobres e indefesos, ante uma dúvida dessas, ficam assanhadas. “Absurdo! Ninguém respeita os pedestres!” Que se assanhem à vontade. Estou convencido de que uns e outros – motoristas e pedestres – são igualmente indecentes, para usar um termo leve. Na verdade, eles se merecem.

-- Por que o senhor diz isso? Está provado que, na esmagadora maioria das vezes, os motoristas são culpados. Tanto é se fala muito em direção defensiva.

-- Pode até ser, Ananias. Eu mesmo, na sua frente, aqui no bar do Carneiro, desanquei o vagabundo do Chico Pança (*), que dirige bêbado feito uma vaca e ainda critica o que ele chama de indústria das multas. Mas só um cego não vê também as barbaridades cometidas por pedestres. Dia desses, estacionei o carro numa praça movimentada. Minha neta foi à farmácia comprar remédios para Mafalda. Fiquei cerca de cinco minutos ali. Foi tempo mais que suficiente pra me convencer de que estamos na idade da pedra lascada. O sinal verde para veículos não intimidou os valentes, que atravessavam sem qualquer cerimônia, de um lado para outro, fora da faixa de pedestres. Entre os incautos, velhos que mal podiam dar o passo, gente de meia idade, crianças puxadas pela mãe, jovens e até enfermeira (deduzi pela roupa branca) empurrando cadeira de rodas com um acidentado a bordo.

-- Tudo bem. Mas...

-- Dez minutos depois, a caminho de casa, me deparo com algo pior: uma legião de estudantes, molecada de 13/14 anos, atravessando, em bando, fora da faixa e com o sinal aberto para os carros uma avenida movimentada. Com um agravante: ali, veículos trafegam nos dois sentidos.

-- É preciso investir mais em educação, Velho Marinheiro.

-- Não basta. Todo mundo sabe o que é correto e o que não é. É preciso multar pesadamente, caçar a carteira dos irresponsáveis, confiscar o veículo...

-- Mas, como multar os pedestres?

-- Não sei. Palmatória na bunda costumava, no meu tempo de guri, dar algum juízo a gente sem tino. Mas, nesse caso, acho que nem palmatória resolve.  (atualizada em novembro de 2016)

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"INDÚSTRIA DAS MULTAS"





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