sábado, 15 de outubro de 2016

QUASE HISTÓRIAS: MALDITAS TETAS

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Viver mais tem seu preço. Ou melhor: preços. A gente vive mais, mas já não pode fazer isso e – o que é pior – aquilo. Até faz. Mas não faz tão bem como acredita ter feito, naqueles tempos de cabelos longos iguais aos seus.

O pouco que se ganha é surrupiado. O médico lhe tira com uma mão. E os laboratórios com as duas. Aquele remédio de ponta lhe permite fazer xixi sem sentir dor, mas lhe rouba o último suspiro de memória. A ponto de você jurar que gania de puro prazer.

As mulheres têm lá suas queixas. Secura, calores, flacidez, ossos ocos etc.

Os homens também têm lá as suas agruras. E não são poucas. Calvície, barriga, falta de fôlego, ereção chinfrim, coisas assim. Tudo isso a gente tira de letra. O que não dá para encarar são as tetas que aparecem sem pedir licença, com o avançar dos anos. Coisa medonha. Claro que, nos mais gordos, a coisa é pior. Mas não há magro velho que passe batido. Ou seja: sem tetas, por menores que as tetas sejam.

Vou levar este corpinho roliço, para tomar um banho de mar. As tetas, claro, já fizeram as malas. Sabiá tenta me consolar:

-- Deixe de ser besta. Na sua idade, todos os homens têm tetas.

-- Pois é. Na minha idade, todos os homens têm tetas. E quem foi que lhe disse que a desgraça alheia minimiza a minha? 

(Orlando Silveira - atualizado em novembro de 2018)


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