domingo, 16 de outubro de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RICARDO BOECHAT




Resultado de imagem para imagens primeira missa
PRIMEIRA MISSA/ARQUIVO GOOGLE


MANOBRAS NA “CASA NOSTRA”

Abusos de autoridade acontecem desde a Primeira Missa
e visitam o dia a dia dos brasileiros com a frequência
e a regularidade dos batimentos cardíacos de um atleta olímpico

POR RICARDO BOECHAT

ISTOÉ ONLINE
Em 14/10/2016


Manchete do jornal “Estado de S. Paulo” de sexta-feira, 14: “Senado vai retomar projeto questionado pela Lava Jato”. Não se trata de uma matéria qualquer, embora dormite desde 2007 nas gavetas do Congresso. Nem de um questionamento irrelevante, pois, noves fora, diz respeito ao que o Ministério Público e a Polícia Federal vêm fazendo contra as quadrilhas políticas que pilharam e continuam pilhando o País.

Está em cena a proposta de alteração da Lei de Abuso de Autoridade, com medidas que pretendem agravar as penalidades contra agentes do Estado que extrapolem no exercício de suas funções, oprimindo o cidadão indefeso. Como 100% dos textos legais, o enunciado é impecável. Mas as circunstâncias fazem-no mal cheiroso.

A primeira pergunta para ajudar a decifrar a origem do “bodum” está na pressa dos senadores, que durante anos desprezaram os benefícios potenciais da iniciativa para, repentinamente, tratá-la como inadiável.

A segunda remete ao conhecimento geral dos fatos. Com 200 milhões de habitantes, o Brasil tem 200 milhões de testemunhas diretas de abusos cotidianos de autoridade. Do guarda de trânsito ao burocrata da repartição, do magistrado lento ao médico omisso, do fiscal “e aí, como é que fica?” ao PM que atira sem pensar, entre outras muitas situações, abusos de autoridade acontecem desde a Primeira Missa e visitam o dia a dia dos brasileiros com a frequência e a regularidade dos batimentos cardíacos de um atleta olímpico.

Por certo não é a preocupação com essas “vítimas comuns” que está tirando, com mais de cinco séculos de atraso, o sono de Suas Excelências.

Mais uma pergunta se impõe: é aceitável que dois senadores atolados até o pescoço em suspeitas diversas protagonizem tal manobra legislativa? Isso mesmo: Renan “Transpetro” Calheiros e Romero “estancar a sangria” Jucá, este como relator da matéria, são os patronos da repentina urgência dada ao projeto.

Excluída a hipótese de uma inédita preocupação de ambos com as vítimas cotidianas dos abusos de autoridades, resta concluir que estão legislando em causa própria. Renan e Jucá, descaradamente, agem para poupar autoridades (como eles) de apertos resultantes de escutas telefônicas, conduções coercitivas, prisões, delações premiadas e divulgação de seus maus feitos. “O conteúdo, a forma e a celeridade da proposta abrem espaço para a compreensão de que é uma reação contra as grandes investigações, como a Lava Jato”, afirmou o procurador federal Deltan Dallagnol. Nada a acrescentar. Vamos esperar para descobrir quantos senadores de associarão ao golpe.




Nenhum comentário:

Postar um comentário