DE
ONDE VÊM AS PALAVRAS:
A
OCASIÃO FAZ O LADRÃO
Por Deonísio
da Silva
Blog
do Augusto Nunes
Frase
com certa sutileza malvada embutida. Dá conta implicitamente de que, havendo
ocasião, surge inevitavelmente o ladrão.
Diversos
códigos penais basearam-se em tão triste concepção do gênero humano para vazar
seus artigos. Segundo tal hipótese, o que garante não haver ladrões é um
eficiente sistema de punição.
Nas
282 cláusulas do Código de Hamurábi, baixado pelo rei da Babilônia no século
XVIII a.C., as punições a furtos e roubos ocupam boa parte do diorito, a rocha
em que estão gravadas: “Se o comprador não apresenta o vendedor e as
testemunhas perante as quais ele comprou, o comprador é o ladrão e morrerá. E o
proprietário retoma o objeto”; “se alguém comete roubo e é preso, ele é
morto.”.
Machado
de Assis (1839-1908), ainda que tão cínico e mordaz, corrigiu a máxima com
muita propriedade para: “Não é a ocasião que faz o ladrão, o provérbio está
errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o furto; o ladrão já nasce
feito”. Pensando bem, é quase pior.
DC.CLICKRBS.COM.BR |
(*)
Deonísio da Silva é professor, escritor e etimologista
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