LIBERATI |
TRÊS APITOS
De
Noel Rosa
Na
interpretação de Maria Bethânia
Quando o apito da
fábrica de tecidos
Vem ferir os meus
ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
E está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao
apito
De uma chaminé de barro
Por que não atende ao
grito tão aflito
Da buzina do meu carro?
Você no inverno
Sem meias vai pro
trabalho
Não faz fé com agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo
Artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você
Sou do sereno
Poeta muito soturno
Vou virar guarda
noturno
E você sabe porque
Mas você não sabe
Que enquanto você faz
pano
Faço junto do piano
Estes versos prá você
Nos meus olhos você vê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
impertinente
Que dá ordens a você
O ORVALHO VEM CAINDO
De
Noel Rosa
Na
interpretação de Carlos Lyra e Verônica Sabino
O orvalho vem caindo,
vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo,
as estrelas lá do céu
Tenho passado tão mal
A minha cama é uma
folha de jornal
O orvalho vem caindo,
vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo,
as estrelas lá do céu
Tenho passado tão mal
A minha cama é uma
folha de jornal
Meu cortinado é um
vasto céu de anil
E o meu despertador é o
guarda civil
(Que o dinheiro ainda
não viu!)
O orvalho vem caindo,
vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo,
as estrelas lá do céu
Tenho passado tão mal
A minha cama é uma
folha de jornal
A minha terra dá banana
e aipim
Meu trabalho é achar
quem descasque por mim
(Vivo triste mesmo
assim!)
O orvalho vem caindo,
vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo,
as estrelas lá do céu
Tenho passado tão mal
A minha cama é uma
folha de jornal
A minha sopa não tem
osso e nem tem sal
Se um dia passo bem,
dois e três passo mal
(Isso é muito natural!)
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