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DILMA SAI, A CRISE FICA
BLOG DO NOBLAT – 27/08/2016 - 01h25
(Por Ruy Fabiano) A coreografia adotada pelo PT nestas
sessões conclusivas do impeachment - de anarquizar o processo, em busca de
desqualificá-lo - indica que o partido já está ciente do resultado adverso e
joga os primeiros lances do pós-impeachment, que o devolverá ao único terreno
em que de fato é eficaz: a oposição predatória.
Há, pois, método na bagunça da tropa
de choque, integrada pelos inacreditáveis Lindbergh Faria, Vanessa Grazziotin e
Gleise Hoffmann. E não se trata apenas de encenar para o filme que está sendo rodado
– “O Impeachment” -, em busca de impor a “narrativa” do golpe. É mais: é o
temor e a incerteza do futuro.
De um lado, o partido derrete
eleitoralmente, como o demonstram as pesquisas iniciais das eleições de outubro
próximo; de outro, vê a Lava Jato aproximando-se cada vez mais de seu líder
maior, Lula. Aí residem as efetivas preocupações.
Dilma já não cheira, nem fede. O
partido sabe que não há futuro para ela e não afasta a hipótese de que venha a
renunciar no instante final, como o fez Fernando Collor, em 1992, ao constatar
que o jogo já estava jogado.
Collor não teve êxito: a renúncia não
invalidou sua cassação, nem os efeitos políticos dela decorrentes, fazendo-o
amargar oito anos de inelegibilidade. Com relação a Dilma, isso é secundário:
sua inelegibilidade é definitiva. Collor, político de carreira, voltou. Dilma,
que jamais foi do ramo, não tem volta. O PT, que nunca morreu de amores por
ela, já dela não depende, nem cuida.
O que o preocupa é outra coisa: não
contava com o indiciamento de Lula, em meio ao julgamento de Dilma, o que dá
substância aos rumores de que sua prisão aguarda apenas a confirmação do
impeachment, que formaliza o banimento do poder.
A saída de que cogita, consumada a
prisão, é a de tentar levar para as ruas a barulheira que neste momento promove
no plenário do Senado. Chances de êxito? A conferir. A militância organizada
ainda dispõe de recursos, liberados por Dilma antes de sair. Resta saber se
ainda tem povo. Os sinais não são animadores.
Outro temor é de que Dilma, desprovida
do mandato, e devolvida à condição de cidadã comum, começará outro calvário: a
responsabilização penal pela parte que lhe cabe na lambança da Lava Jato, que a
colocará diante do juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
A Michel Temer não interessa essa parte.
A revelação de irregularidades na campanha eleitoral de Dilma – tanto a de 2010
quanto a de 2014 – reserva-lhe sorte equivalente.
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Ainda que seus aliados insistam na
tese de que ele fez campanha em separado, com contabilidade própria, sem
qualquer vínculo financeiro com a titular, a jurisprudência, já aplicada a
numerosos prefeitos e governadores, é a de condenar toda a chapa, não importa
se apenas um dos candidatos delinquiu.
Por aí, Temer corre riscos. Tem a seu
favor, no entanto, o anseio do mercado e da população por alguma estabilidade
política, após meses de incertezas, que impedem a economia de se reerguer. Há
também a expectativa de que, uma vez efetivado, mude o tom e passe a se dirigir
à nação com mais firmeza e frequência, dando-lhe ciência da dimensão do trágico
legado que lhe coube – e ao país.
Essa estratégia chega um pouco
enfraquecida pela recente capitulação ao lobby corporativo, que resultou na
concessão de aumentos a 14 categorias de servidores públicos e aos ministros do
STF, num montante de R$ 58 bilhões, que terão de ser cobertos com aumentos de
impostos e a recriação da CPMF.
Não é um bom começo. Como se não
bastasse, o fator implacável de instabilidade política – a Lava Jato –
prossegue. E as principais delações, da Odebrecht e da OAS, ainda não se
conhecem por inteiro – e o pouco que vazou assusta.
Em resumo, Dilma sai, mas a crise
continua.
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