PENSAMENTOS
FOTO: REVISTA CLÁUDIA |
Não há gente completamente boa
nem gente
completamente má,
está tudo misturado e a separação é
impossível.
O mal está no próprio gênero humano,
ninguém presta. Às vezes a gente
melhora.
Mas passa.
***
Mordo o último biscoito e respiro
estimulada.
Aí está onde eu queria chegar:
milhares de coisas estão subentendidas.
Nas entrelinhas. O lado omisso.
Quero a verdade, M.N., meu amado,
escuta, entenda isso, quero a verdade.
E você sugere reticências. Omissões.
***
Descobri outro dia que a gente só se
mata por causa dos outros,
para fazer efeito, dar reação,
compreende?
Se não houvesse ninguém em volta para
sentir piedade,
remorso e etc. e tal,
a gente não se matava nunca.
Então descobri um jeito ótimo, me matar
e continuar vivendo.
Largo meus sapatos e minha roupa na
beira do rio,
mando cartas e desapareço.
***
Enriqueço na solidão:
fico inteligente, graciosa e não esta
feia ressentida
que me olha do fundo do espelho.
Ouço duzentas e noventa e nove vezes o
mesmo disco,
lembro poesias, dou piruetas, sonho,
invento,
abro todos os portões e quando vejo a
alegria está instalada em mim.
***
Estranho, sim.
As pessoas ficam desconfiadas, ambíguas
diante dos apaixonados.
Aproximam-se deles, dizem coisas
amáveis,
mas guardam certa distância,
não invadem o casulo imantado que
envolve os amantes
e que pode explodir como um terreno
minado,
muita cautela ao pisar nesse terreno.
Com sua disciplina indisciplinada,
os amantes são seres diferentes
e o ser diferente é excluído porque vira
desafio, ameaça.
Se o amor na sua doação absoluta os faz
mais frágeis,
ao mesmo tempo os protege como uma
armadura.
Os apaixonados voltaram ao Jardim do
Paraíso,
provaram da Árvore do Conhecimento e
agora sabem.
(DEZEMBRO DE 2013)
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