terça-feira, 30 de agosto de 2016

QUASE HISTÓRIAS

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DEZ MINUTOS

O amontoado de segundos, que pareciam horas, foi dramático. Não sei se aqueles dez minutos foram os piores de minha vida – de minha infância, com certeza, foram. A sirene anunciava o momento de voltar para casa. Era meu primeiro dia de aula. Os portões se abriram. Mães esperavam os filhos do lado de fora. As crianças saiam correndo para abraçá-las. Cadê minha mãe? Ficamos sozinhos no pátio – eu e minha lancheira vazia. Minha mãe me abandonou? Minha mãe morreu? Angústia, pânico. Finalmente, minha mãe chegou. Foi o abraço na cintura mais gostoso que dei em minha vida.

CHEIROS

Padre Serafim era dublê de professor de espanhol e comandante em chefe da cantina do colégio. Às nove da manhã, começava a tortura. Aquele cheiro de misto quente de mortadela com queijo tomava as salas de aula, o quarteirão. Crianças, contávamos os segundos para comer o lanche abençoado. Com o passar dos anos, descobri outros cheiros, até melhores que aquele, ou tão bons quanto. Mas daquele não me esqueço. Por conta do cigarro, perdi o olfato. A vida sem cheiros é mais triste.

FILHOS DA MÃE

Noite fria. Quase meia-noite. Lá vai ela coar café para os três rebentos adultos, dois deles já formados, pós-graduados e concursados, caminho que a caçula segue com idêntica raça.

As “crianças” vão estudar de madrugada – os dois mais velhos, para concurso de juiz; a pequena, para a prova da OAB. Enquanto o café não sai, os três irmãos brincam, riem, trocam informações, contam causos, fazem carinho no cachorro ancião, que depois de velho acata a ordem para sentar – desde que, evidentemente, ganhe, em troca, uma guloseima.

Café coado, ela repousa a cabeça no travesseiro. Segundos depois, já dorme profundamente seu sono Sabiá. (2013)





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