www.guiadacasa.com |
DEZ MINUTOS
O
amontoado de segundos, que pareciam horas, foi dramático. Não sei se aqueles
dez minutos foram os piores de minha vida – de minha infância, com certeza,
foram. A sirene anunciava o momento de voltar para casa. Era meu primeiro dia
de aula. Os portões se abriram. Mães esperavam os filhos do lado de fora. As
crianças saiam correndo para abraçá-las. Cadê minha mãe? Ficamos sozinhos no
pátio – eu e minha lancheira vazia. Minha mãe me abandonou? Minha mãe morreu? Angústia,
pânico. Finalmente, minha mãe chegou. Foi o abraço na cintura mais gostoso que
dei em minha vida.
CHEIROS
Padre
Serafim era dublê de professor de espanhol e comandante em chefe da cantina do
colégio. Às nove da manhã, começava a tortura. Aquele cheiro de misto quente de
mortadela com queijo tomava as salas de aula, o quarteirão. Crianças,
contávamos os segundos para comer o lanche abençoado. Com o passar dos anos,
descobri outros cheiros, até melhores que aquele, ou tão bons quanto. Mas
daquele não me esqueço. Por conta do cigarro, perdi o olfato. A vida sem
cheiros é mais triste.
FILHOS DA MÃE
Noite
fria. Quase meia-noite. Lá vai ela coar café para os três rebentos adultos,
dois deles já formados, pós-graduados e concursados, caminho que a caçula segue
com idêntica raça.
As
“crianças” vão estudar de madrugada – os dois mais velhos, para concurso de
juiz; a pequena, para a prova da OAB. Enquanto o café não sai, os três irmãos
brincam, riem, trocam informações, contam causos, fazem carinho no cachorro
ancião, que depois de velho acata a ordem para sentar – desde que,
evidentemente, ganhe, em troca, uma guloseima.
Café
coado, ela repousa a cabeça no travesseiro. Segundos depois, já dorme
profundamente seu sono Sabiá. (2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário