QUE MORAL TEM ESSA SENHORA PARA FALAR EM MORAL? |
QUEM TEM
MORAL NO SENADO?
EIS A QUESTÂO
(Por
Josias de Souza)
Quem tem moral no Senado para julgar Dilma?, eis a questão. A interrogação vem
a propósito de um arroubo da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) no primeiro dia
do julgamento do processo de impeachment. Antes de responder à
pseudocuriosidade da senadora, vale a pena atrasar o relógio até 1992. Imaginou-se
que o impeachment de Fernando Collor e a posse de Itamar Franco —o Michel Temer
da época— entrariam para a história como marcos moralizadores da política
nacional.
A desfaçatez com que PC Farias —precursor de
Delúbio e Vaccari— comercializava sua influência no governo e dividia propinas
com o presidente e seu grupo político pareciam ótimas oportunidades para o país
tomar jeito. Mas deu tudo errado. Um escândalo produziu outro, e outro, e mais
outro… Até desaguar no mar de lama do mensalão. Que escorreu para o oceano do
petrolão. Que se misturou à ruína econômica no caldeirão em que arde o mandato
de Dilma. Decorridos 24 anos, o país se depara com o segundo processo de
impeachment de sua história e com a pergunta de Gleisi Hoffmann: Quem tem
moral…?
Considerando-se que foi com o beneplácito de
Lula que o PT se converteu numa máquina coletora de dinheiro, que o mensalão e
o petrolão têm sua origem na gestão dele, que foi sob o seu patrocínio que
petistas e aliados nomearam os petrogatunos, que Dilma foi eleita e reeleita em
cima de uma caixa registradora tóxica, considerando-se tudo isso, mais o fato
de o PT governar o país há 13 anos escorado em sarneys, renans, collors,
malufs, cunhas e assemelhados, chega-se à seguinte conclusão: o objetivo de
Gleisi Hoffmann ao questionar a moral dos colegas é desobrigar a política de
fazer sentido.
Durante o governo Sarney, Lula chamava-o de
“ladrão”. Golpeado por Collor abaixo da linha da cintura na campanha
presidencial de 1989, Lula pegou em lanças pelo impeachment. Nessa época, o
tratamento mais cortês que Collor mereceu de Lula e de todo o petismo foi o de
“corrupto''. Que dizer dos insultos que o PT e seu morubixaba trocaram com
Maluf? De repente, os ex-moralistas associaram-se a todos os imorais num mesmo
empreendimento governamental. E anunciaram à nação: “Somos todos aliados! Somos
uns a cara esculpida e escarrada dos outros.”
JOSIAS DE SOUZA É JORNALISTA |
Antes de borrifar perguntas na atmosfera seca
do plenário do Senado, Gleisi Hoffmann precisaria fornecer respostas: depois
que fizeram tanto esforço para se tornar iguais, como podem supor que ainda é
possível distinguir uns dos outros? Não eram todos aliados até ontem? Não foi
sob o poder petista que Cunha, Collor, Renan, Sarney, Jucá, Barbalho e tantos
outros plantaram bananeira dentro dos cofres da Petrobras e do setor elétrico?
Dilma, Lula e o PT chegaram à condição atual
por seus próprios deméritos. Por três mandatos, abasteceram a coligação
governista de propinas. O mensalão mal havia secado e já existia o petrolão.
Deflagrada sob Dilma, a Lava Jato emparedou corruptos e corruptores. Pela
primeira vez, a oligarquia foi para o xadrez. A corrupção passou a dar cadeia.
Interrompido o provimento regular de dinheiro sujo, aliados foram se
convertendo em traidores.
Até bem pouco, Dilma enxergava o Senado como
sua última trincheira. Renan Calheiros era o heroi da resistência. Hoje, madame
não consegue juntar 28 votos para salvar o mandato. O petismo é picado pelas
serpentes que o poder petista financiou. Num ambiente assim, tão conspurcado, a
companheira Gleisi renderia homenagens à lógica se evitasse questionar a moral
alheia.
Gleisi faria um bem a si mesma se pelo menos
adiasse suas reprimendas para depois do encerramento do processo em que seu
marido, Paulo Bernardo, é acusado de tomar parte de um esquema que assaltou
aposentados e servidores pendurados no empréstimo consignado. A senadora terá
muito mais moral depois que ficar comprovado que seu marido não participou de
tamanha imoralidade.
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