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A CRISE, SEGUNDA TEMPORADA
BLOG DO NOBLAT - 20/08/2016 - 01h20
(Por Ruy
Fabiano) Consumado o afastamento de
Dilma Roussef, a crise, como é óbvio, não termina: entra em nova fase. Segunda
temporada.
O fator desestabilizador, a Lava Jato,
prossegue. Até aqui, nenhum líder de expressão, da situação ou da oposição,
deixou de ter alguma menção desabonadora nas delações premiadas, incluindo o
próprio presidente Michel Temer.
É claro que há gradações nas denúncias; nem
todos cometeram os mesmos delitos – e alguns foram apenas citados, restando
comprovar o que foi dito. Outros já receberam até sentença e já a cumprem na
penitenciária de Curitiba.
Mas é claro que a simples menção já é fator de
desgaste, com consequências políticas que afetam o conjunto das instituições,
incluindo o Judiciário, que começa a constar das delações da Lava Jato – vide
as menções que Leo Pinheiro, da OAS, faz em relação ao ministro Dias Toffoli,
do STF, e Benedito Gonçalves, do STJ.
As delações mais substanciais – a dos
executivos da Odebrecht, e do presidente da OAS, Leo Pinheiro, além de João
Santana e sua mulher – ainda estão em curso. E prometem implodir a República.
De quebra, o afastamento definitivo de Dilma deve apressar o enquadramento de
Lula e de outras figuras de proa de sua corte.
“Não é casual
que o governo cogite de recriar ministérios que ele mesmo extinguiu, como é o
caso do Ministério do Desenvolvimento Agrário... Mais ministérios, mais cargos, mais despesas,
mais impostos. Tudo isso em troca de votos no Congresso”
Temer, uma vez efetivado, ganha musculatura,
mas nada garante que suficiente para o que tem pela frente. O legado petista
exige providências impopulares, com cortes drásticos no orçamento, inclusive
nos programas sociais, aumento de tributos e contenção de gastos. E há as
reformas: previdenciária, tributária, trabalhista.
O poder de desestabilização das corporações é
conhecido e já põe a boca no trombone, avisando que combaterá cada uma dessas
reformas, que todos admitem indispensáveis, desde que não afete o seu bolso. O
Brasil corporativo, dos sindicatos, centrais sindicais, ONGs e “movimentos
sociais”, é mais poderoso que o Brasil real, dos 12 milhões de desempregados,
que não dispõem de organicidade para fazer valer suas urgências.
Temer terá de enfrentar esse quadro, sem contar
com suporte popular – era quase desconhecido até ser guindado à Presidência
pelo impeachment. Sua base parlamentar é instável e em grande parte sob pressão
da Lava Jato. É uma maioria a ser construída a cada votação, a um preço em
regra adverso ao interesse público.
Não é casual que o governo cogite de recriar
ministérios que ele mesmo extinguiu, como é o caso do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, que se antepõe ao Ministério da Agricultura, abrigando
organizações hostis ao agronegócio – isto é, ao desenvolvimento agrário. Mais
ministérios, mais cargos, mais despesas, mais impostos. Tudo isso em troca de
votos no Congresso.
RUY FABIANO É JORNALISTA E ESCRITOR |
A única chance de Temer, diante de tal quadro,
é abdicar de fato de qualquer projeto eleitoral. Já disse que não será
candidato à reeleição, mas em política declarações, dissociadas de atos, têm
valor próximo (ou mesmo abaixo) de zero. No caso de Temer, será preciso que
arroste vaias e impopularidade – e mostre coragem.
E não bastará. Se ele, de fato, não tem
aspirações futuras, o mesmo não se pode dizer de seu ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, visto no meio político como pretendente ao trono.
Segundo esses comentários, que partem de amigos
seus, Meirelles sonha reeditar FHC, que, ao consertar a economia, via Plano
Real, como ministro da Fazenda de Itamar Franco – que também chegou ao cargo
via impeachment do titular -, elegeu-se por duas vezes, e no primeiro turno,
presidente da República.
No caso de FHC, porém, o projeto político
instalou-se após o êxito do projeto econômico, não antes. Se a política guiar
os passos de Meirelles, as chances de êxito se tornam ainda mais remotas.
A saída de Dilma coloca o PT e suas franjas
partidárias – os tais movimentos sociais – na função que melhor exercem: a de
oposicionistas e predadores. Pela via da propaganda, tentarão atribuir ao
governo a autoria do legado que eles mesmos produziram, e dessa maneira
capitalizar as insatisfações.
O ambiente pré-eleitoral, que já preside as
ações do Congresso, dificulta – ou mesmo inviabiliza - a aprovação das
reformas.
Diz-se que o que diferencia o estadista do político é que, enquanto
aquele pensa nas próximas gerações, este pensa nas próximas eleições. Não há
estadistas no Congresso, que hoje divide suas preocupações entre as urnas e o
banco dos réus. Não é ambiente propício à envergadura das necessidades do país.
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