Otávio Nunes é jornalista |
BICHAREDO
(Com
licença não autorizada de Chico Buarque. Espero que ele não me processe. É uma
homenagem)
Tenho
um amigo que fala muita bobagem. Na maioria das vezes chega a me superar neste
quesito. Quando ele exagera, digo vá pentear macaco, mas não resolve muito,
porque ele sempre puxa a sardinha para sua brasa. Se pelo menos ficasse na
dele, em seu mundinho de incertezas, pois cada macaco em seu galho é a melhor
maneira de viver sem invadir seara alheia.
Tem
situações que me capitulo diante da asneira. Aí, solerte leitor, a vaca já foi
brejo, mesmo, tiro meu cavalinho da chuva e saio de mansinho a passos de
cágado. Não esqueço a ousadia, afinal tenho memória de elefante. Quando ele
domina as conversas, então, é a raposa tomando conta do galinheiro e as pessoas
ficam mais perdidas que cachorro em dia de mudança ou minhoca no galinheiro.
Ah,
mas às vezes consigo prevalecer ou esclarecer esta mente conturbada e nesta
hora a onça bebe água e ele fica com a pulga atrás da orelha. Macacos me
mordam, minutos depois ele volta com uma camisa de cor de burro quando foge e
eu sinto-me novamente como peixe fora d’água, mas suporto tudo com galhardia.
Afinal, quem não tem cão, caça com gato. Este cara não tem jeito. Parece que
tem bicho no corpo inteiro.
Num
mundo onde as pessoas são animalescas e matam ou morrem como moscas por nada ou
muito pouco, sou mais pacífico que o oceano. Tenho uma paciência de jiló. Evito
levar uma vida de cão, rosnando para todo mundo e comendo comida de passarinho.
Aceito de bom grado a diversidade de pensamentos, o contrário e até mesmo a
mais completa idiotice ou bizarrice e quando recebo um elogio, não me interessa
de quem partiu, gosto porque cavalo dente não se olha o dado. Mesmo assim,
fiquei surpreso com a última observação deste amigo insano. Algo está errado
nesta fauna. Aqui tem truta. Fiquei puto da vida e agora o bicho vai pegar. (OTÁVIO NUNES)
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