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VINGANÇA
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VINGANÇA
De Lupicínio Rodrigues
Por Maria Bethânia
Eu
gostei tanto,
Tanto
quando me contaram
Que
o encontraram
Bebendo
e chorando
Na
mesa de um bar,
E
que quando os amigos do peito
Por
mim perguntaram
Um
soluço cortou a sua voz,
Não
o deixou falar.
Eu
gostei tanto,
Tanto,
quando me contaram
Que
tive mesmo de fazer um esforço
Para
ninguém notar.
O
remorso talvez seja a causa
Do
seu desespero
Ela
deve estar bem consciente
Do
que praticou,
Me
fez passar tanta vergonha
Com
um companheiro
E
a vergonha
É
a herança maior que meu pai me deixou;
Mas,
enquanto houver força no meu peito
Eu
não quero mais nada
Só
vingança, vingança, vingança
Aos
santos clamar
Ela
há de rolar como as pedras
Que
rolam na estrada
Sem
ter nunca um cantinho seu
Para
poder descansar.
FOI ASSIM
De Lupicínio Rodrigues
Por Maria Bethânia
Foi
assim
Eu
tinha alguém que comigo morava
Mas
tinha um defeito que brigava
Embora
com razão ou sem razão
Encontrei
Um
dia uma pessoa diferente
Que
me tratava carinhosamente
Dizendo
resolver minha questão
Mas
não
Foi
assim
Troquei
essa pessoa que eu morava
Por
essa criatura que eu julgava
Pudesse
compreender todo o meu eu
Mas
no fim
Fiquei
na mesma coisa que eu estava
Porque
a criatura que eu sonhava
Não
faz aquilo que me prometeu
Não
sei se é meu destino
Não
sei se é meu azar
Mas
tenho que viver brigando
Se
todos no mundo encontram seu par
Por
que só eu vivo trocando
Se
deixo de alguém
Por
falta de carinho
Por
brigas e outras coisas mais
Quem
aparece no meu caminho
Tem
os defeitos iguais
***
***
LUPICÍNIO RODRIGUES
Por Carlos Renó
Fonte: UOL EDUCAÇÃO
Lupicínio Rodrigues nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em um
bairro pobre da cidade, a Ilhota, no dia 16 de setembro de 1914. Chovia tanto
que o córrego próximo da sua casa inundou, obrigando a parteira a chegar lá de
barco. Seus pais, Francisco e Abigail, tiveram 21 filhos - e Lupicínio foi o
quarto.
Francisco era funcionário público e mandou Lupicínio para a escola logo aos cinco anos de idade. Dizem que o menino se distraía muito cantando na sala de aula e que, por essa razão, teve de parar os estudos, para retomá-los dois anos mais tarde. Enquanto cursava o primário e o ginasial (correspondentes ao atual primeiro grau), trabalhou como aprendiz de mecânico.
Aos catorze anos, ele compôs sua primeira música, "Carnaval", para um cordão chamado Prediletos. Precocemente, já frequentava a boemia e suas amigas inseparáveis: as bebidas e as serenatas. O pai não gostou e o obrigou a se alistar no Exército, aos quinze anos, como "voluntário".
Francisco era funcionário público e mandou Lupicínio para a escola logo aos cinco anos de idade. Dizem que o menino se distraía muito cantando na sala de aula e que, por essa razão, teve de parar os estudos, para retomá-los dois anos mais tarde. Enquanto cursava o primário e o ginasial (correspondentes ao atual primeiro grau), trabalhou como aprendiz de mecânico.
Aos catorze anos, ele compôs sua primeira música, "Carnaval", para um cordão chamado Prediletos. Precocemente, já frequentava a boemia e suas amigas inseparáveis: as bebidas e as serenatas. O pai não gostou e o obrigou a se alistar no Exército, aos quinze anos, como "voluntário".
Em 1933, ele foi transferido para Santa Maria, cidade do interior do
estado, e promovido a cabo. Lá, conheceu Iná, que se tornaria uma grande musa
inspiradora de sua obra. A relação chegou ao noivado, durando cinco anos, mas
acabou porque a família da moça não aceitou a vida boêmia que Lupicínio levava.
Lupi, como era chamado pelos amigos, continuou cantando e compondo. Como cantor, sua maior influência era Mário Reis. E, como compositor, Noel Rosa, que ele chegou a conhecer em 1932. "Esse garoto vai longe", disse Noel, depois de ouvir Lupicínio cantar.
Em 1935, Lupicínio Rodrigues deu baixa do Exército e voltou para Porto Alegre, onde foi trabalhar como bedel na Faculdade de Direito. No mesmo ano, venceu um concurso musical da prefeitura, em comemoração ao centenário da Revolução Farroupilha, com a canção "Triste história", uma parceria com Alcides Gonçalves, que a gravou em 1936, junto com "Pergunte aos meus tamancos", outro samba da dupla.
Lupi, como era chamado pelos amigos, continuou cantando e compondo. Como cantor, sua maior influência era Mário Reis. E, como compositor, Noel Rosa, que ele chegou a conhecer em 1932. "Esse garoto vai longe", disse Noel, depois de ouvir Lupicínio cantar.
Em 1935, Lupicínio Rodrigues deu baixa do Exército e voltou para Porto Alegre, onde foi trabalhar como bedel na Faculdade de Direito. No mesmo ano, venceu um concurso musical da prefeitura, em comemoração ao centenário da Revolução Farroupilha, com a canção "Triste história", uma parceria com Alcides Gonçalves, que a gravou em 1936, junto com "Pergunte aos meus tamancos", outro samba da dupla.
O sucesso
A consagração veio em 1938, com "Se acaso você chegasse", que
revelou também a voz de Ciro Monteiro. O samba estabeleceu a parceria com o
compositor e pianista Felisberto Martins. Como ele morava no Rio e trabalhava
em gravadora (tornou-se diretor da Odeon), Lupicínio Rodrigues o incumbiu de
divulgar músicas suas em troca de parceria.
Lupicínio jamais deixou Porto Alegre. Somente por alguns meses, em 1939, viveu no Rio. Cantou, então, para Francisco Alves, que passou a gravá-lo e tornou-se um dos seus principais intérpretes. O chamado Rei da Voz transformou em sucessos "Nervos de aço", em 1947, "Esses moços" e "Quem há de dizer", em 1948, e "Cadeira vazia", em 1950.
Para o cantor Orlando Silva, Lupicínio deu, em 1947, as canções "Brasa" e "Zé Ponte". Nesse mesmo ano, Lupi obteve projeção nacional com "Felicidade", na gravação do conjunto Quitandinha Serenaders. Em 1949, Lupicínio se casou com a gaúcha Cerenita Quevedo Azevedo. No fim da década de 1940, o compositor abriu uma churrascaria, o primeiro de uma série de bares e restaurantes com música ao vivo que ele viria a ter - uma forma de reunir o trabalho com o que ele mais amava: a boemia.
No início da década de 1950 sua obra ganhou uma importante intérprete: a paulista Linda Batista. Em 1951, ela estourou com o samba-canção "Vingança", talvez o maior sucesso do compositor. No ano seguinte, Lupicínio Rodrigues gravou seu primeiro álbum como cantor: "Roteiro de um boêmio". E, em 1959, compôs o hino oficial do Grêmio Futebol Porto-alegrense. No mesmo ano, a canção "Ela disse-me assim" inaugurou com sucesso a série de gravações que Jamelão faria das músicas de Lupi.
Em 1960, uma regravação que Elza Soares fez de "Se Acaso Você Chegasse" transformou a música em um sucesso novamente. Nos anos seguintes, porém, o nome de Lupicínio caiu no esquecimento.
De tempos em tempos, contudo, Lupicínio Rodrigues é cantado, gravado ou homenageado. Em duas dessas vezes, na década de 1980, a regravação de suas músicas alcançou grande popularidade: "Nunca", na voz de Zizi Possi, e "Loucura", com Maria Bethânia. Entre os intérpretes que fizeram releituras de canções suas na década de 1990 estão Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhoto.
Lupicínio jamais deixou Porto Alegre. Somente por alguns meses, em 1939, viveu no Rio. Cantou, então, para Francisco Alves, que passou a gravá-lo e tornou-se um dos seus principais intérpretes. O chamado Rei da Voz transformou em sucessos "Nervos de aço", em 1947, "Esses moços" e "Quem há de dizer", em 1948, e "Cadeira vazia", em 1950.
Para o cantor Orlando Silva, Lupicínio deu, em 1947, as canções "Brasa" e "Zé Ponte". Nesse mesmo ano, Lupi obteve projeção nacional com "Felicidade", na gravação do conjunto Quitandinha Serenaders. Em 1949, Lupicínio se casou com a gaúcha Cerenita Quevedo Azevedo. No fim da década de 1940, o compositor abriu uma churrascaria, o primeiro de uma série de bares e restaurantes com música ao vivo que ele viria a ter - uma forma de reunir o trabalho com o que ele mais amava: a boemia.
No início da década de 1950 sua obra ganhou uma importante intérprete: a paulista Linda Batista. Em 1951, ela estourou com o samba-canção "Vingança", talvez o maior sucesso do compositor. No ano seguinte, Lupicínio Rodrigues gravou seu primeiro álbum como cantor: "Roteiro de um boêmio". E, em 1959, compôs o hino oficial do Grêmio Futebol Porto-alegrense. No mesmo ano, a canção "Ela disse-me assim" inaugurou com sucesso a série de gravações que Jamelão faria das músicas de Lupi.
Em 1960, uma regravação que Elza Soares fez de "Se Acaso Você Chegasse" transformou a música em um sucesso novamente. Nos anos seguintes, porém, o nome de Lupicínio caiu no esquecimento.
De tempos em tempos, contudo, Lupicínio Rodrigues é cantado, gravado ou homenageado. Em duas dessas vezes, na década de 1980, a regravação de suas músicas alcançou grande popularidade: "Nunca", na voz de Zizi Possi, e "Loucura", com Maria Bethânia. Entre os intérpretes que fizeram releituras de canções suas na década de 1990 estão Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhoto.
O banal sem
banalidade
Lupicínio é um dos compositores mais
originais da música popular brasileira. Além das inúmeras qualidades do seu
trabalho, ele se destacou como o criador da "dor-de-cotovelo". A
expressão, graças a ele, passou a designar um estilo de canção que trata das
desventuras amorosas, um tema sobre o qual Lupicínio foi um criador imbatível.
"Suas músicas podem lidar com o banal, mas não são banais", escreveu o poeta Augusto de Campos sobre ele. De fato, poucos foram capazes de tanta imprevisibilidade no âmbito da poesia da nossa música popular. De tanta força, fluência, precisão e contundência nos versos. "Eu não sei se o que trago no peito/ É ciúme, despeito, amizade ou horror;/ Eu só sei é que quando eu a vejo,/ Me dá um desejo de morte ou de dor": é o que diz Lupicínio num de seus sambas mais famosos, "Nervos de aço".
Imagens surpreendentes, verdadeiros achados, podem ser encontrados também em várias outras canções de sua autoria, que formam um dos conjuntos mais expressivos da música popular brasileira.
Em 1995, o filho de Lupicínio, Lupicínio Rodrigues Filho, organizou o livro "Foi Assim" (Editora L&PM), com uma seleção das crônicas publicadas por seu pai no jornal "Última Hora", de Porto Alegre, em 1962 e 1963. Na maior parte desses textos, o compositor conta a história das suas músicas: "Eu tenho sofrido muito nas mãos das mulheres, porque sou muito sentimental, mas também tenho ganhado fortunas com o que elas me fazem...", revelou ele numa das crônicas.
Dizem que, para compor, Lupi não usava nem o violão. Criava de maneira peculiar, assoviando. Assim, ergueu uma obra de cerca de uma centena e meia de canções gravadas. Fazia questão de dizer que todos os casos de amor que cantou foram verdade: "A minha vida". Lupicínio Rodrigues faleceu em Porto Alegre, RS, em 27 de agosto de 1974, aos 59 anos, com problemas no coração.
"Suas músicas podem lidar com o banal, mas não são banais", escreveu o poeta Augusto de Campos sobre ele. De fato, poucos foram capazes de tanta imprevisibilidade no âmbito da poesia da nossa música popular. De tanta força, fluência, precisão e contundência nos versos. "Eu não sei se o que trago no peito/ É ciúme, despeito, amizade ou horror;/ Eu só sei é que quando eu a vejo,/ Me dá um desejo de morte ou de dor": é o que diz Lupicínio num de seus sambas mais famosos, "Nervos de aço".
Imagens surpreendentes, verdadeiros achados, podem ser encontrados também em várias outras canções de sua autoria, que formam um dos conjuntos mais expressivos da música popular brasileira.
Em 1995, o filho de Lupicínio, Lupicínio Rodrigues Filho, organizou o livro "Foi Assim" (Editora L&PM), com uma seleção das crônicas publicadas por seu pai no jornal "Última Hora", de Porto Alegre, em 1962 e 1963. Na maior parte desses textos, o compositor conta a história das suas músicas: "Eu tenho sofrido muito nas mãos das mulheres, porque sou muito sentimental, mas também tenho ganhado fortunas com o que elas me fazem...", revelou ele numa das crônicas.
Dizem que, para compor, Lupi não usava nem o violão. Criava de maneira peculiar, assoviando. Assim, ergueu uma obra de cerca de uma centena e meia de canções gravadas. Fazia questão de dizer que todos os casos de amor que cantou foram verdade: "A minha vida". Lupicínio Rodrigues faleceu em Porto Alegre, RS, em 27 de agosto de 1974, aos 59 anos, com problemas no coração.
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