DILMA: ATÉ O PT A CONSIDERA UM FARDO ILUSTRAÇÂO: RIVAIL |
PT TENTA
REAPRENDER O OFÍCIO DO OPOSICIONISMO
(Por Josias de
Souza) Com início marcado para 25 de agosto, a
deposição de Dilma Rousseff tornou-se um mal necessário até para o Partido dos
Trabalhadores. É crescente o número de petistas que, em privado, reconhecem que
Dilma virou um fardo pesado demais para ser carregado até 2018. Paradoxalmente,
constatam que há males que vêm para pior. O PT havia se equipado para desfrutar
dos confortos do poder ininterrupto por pelo menos 16 anos. Agora, sofre para
reaprender a fazer oposição.
Desde a sua fundação, há 36 anos, o PT é uma congregação monoteísta.
Lula, o fundador, jamais admitiu o culto a outro deus. Em termos doutrinários,
o PT construiu durante sua existência oposicionista uma pregação escorada na
ética. Dessacralizado pela Lava Jato, Lula está prestes a ser denunciado pela
força-tarefa de Curitiba. Os procuradores convenceram-se de que foi com o seu
permanente beneplácito que o PT se converteu de templo da moralidade em centro
de coleta de fundos ilícitos.
Assim, o PT toma o caminho de volta para a oposição diante de uma
conjuntura que expõe os pés de barro de sua divindade e sonega à legenda o
papel que ela melhor desempenhava quando era estilingue. O PT já não pode jogar
pedras nos telhados de vidro dos outros sem parecer ridículo. Metidos em roupas
de vidro, seus líderes apenas ecoam o Lula de 2005, pós-mensalão: “O que o PT
fez é o que é feito no Brasil sistematicamente.”
Lula passou novamente por Brasília na semana passada. Dessa vez,
seus devotos abstiveram-se trombetear a lorota segundo a qual ele voara à
Capital para socorrer Dilma. Queria salvar a si próprio. Em reunião com
congressistas do PT, aconselhou-os a apertar os cintos, porque o partido está
pousando na sua nova realidade. Encomendou a defesa do seu legado. É como se
não tivesse percebido que a ruína de Dilma aniquilou o Brasil grande do pré-sal
e do pleno emprego.
JOSIAS DE SOUZA É JORNALISTA |
O PT busca o que os devotos de Lula chamam de “narrativa” para o
pós-impeachment. Algo que permita ao partido reconstruir o seu discurso. O
problema é que Dilma amou tanto o caos — e foi tão correspondida — que o
discurso do “golpe” perdeu a funcionalidade. Lula, Dilma e o PT já não
conseguem culpar os outros pelos erros que cometeram. Seus herois estão presos
em Curitiba. E o marqueteiro João Santana, mestre na composição das narrativas
do PT, reivindica agora o papel de delator. Ajudará a empurrar Dilma para
dentro do petrolão.
Devolvido à oposição por sua ambição desmedida, o PT terá de descer
do sonho do poder hegemônico para o pesadelo da impotência minoritária.
Enfrentará certa dificuldade para se opor às propostas de Michel Temer, já que
o ajuste fiscal havia sido assumido por Dilma como uma prioridade retórica.
Madame defendeu da reforma da Previdência à recriação da CPMF.
No mais, o petismo terá de incluir em sua narrativa um lote de
explicações sobre os confortos de Lula. Os brasileiros estão curiosos para
saber como um certo homem, confundido com o homem certo, apropriou-se de um
cobiçado imóvel, tomando um dado sítio por um sítio dado.
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