REINALDO AZEVEDO |
A MORTE DO SOLDADO HÉLIO
E NOSSAS MAZELAS E
VIRTUDES.
OU: BELTRAME TEM QUE SAIR
(Por
Reinaldo Azevedo) Hélio Andrade, da Polícia Militar de Roraima,
está morto. Ele era membro da Força Nacional. Nesta quarta-feira, por engano,
entrou no Complexo da Maré, no Rio, numa viatura da corporação. Os traficantes
lhe acertaram um tiro na cabeça. Internado no Hospital Municipal Salgado Filho,
no Méier, para uma cirurgia de urgência, que durou quatro horas e meia, não
resistiu e morreu nesta quinta.
Pois é…
Qual é o Brasil real? Este que mata um
inocente com um tiro na cabeça ou aquele que faz uma abertura grandiosa do
evento e que abriga os jogos, apesar de alguns sobressaltos, de forma bastante
satisfatória?
Os retóricos condoreiros tenderiam a dizer
que real mesmo é o país que mata Hélio. Aquele da solenidade de abertura seria
só uma fantasia.
Discordo, é claro! Os dois países são reais:
tanto aquele em que um bandido acerta um tiro na cabeça de um policial como o
outro, capaz de lidar com o sublime. O Brasil que dá certo nos lembra de que
podemos, sim, ser melhores. Não somos natural e congenitamente avessos à
qualidade, ao saber técnico, à competência.
Em larga medida, o que infelicita o país é a
ligeireza com que determinadas correntes de pensamento afrontam o óbvio, o
elementar.
A forma como o estado do Rio vem cuidando da
segurança pública nos últimos 10 anos não passa de um delírio coletivo de
supostos bem-pensantes.
É claro que, cotidianamente, muitos outros
atos violentos são praticados sem que ninguém saiba. A morte de um homem da
Força Nacional vira um símbolo porque ele foi convocado justamente para
aumentar a segurança, garantindo que os Jogos Olímpicos ocorram em paz.
A política de ocupação pacífica das favelas
não passa de uma narrativa de ficção tendente a alimentar consciências
eventualmente culpadas. Ainda não se inventou uma alternativa eficaz à prisão
de bandidos. Espantá-los ou redistribuí-los entre “comunidades” ainda
não-pacificadas é uma escolha errada na origem.
Parece claro que o ciclo José Mariano
Beltrame, no Rio, chegou ao fim. Não duvido da sua honestidade pessoal e de sua
honestidade de propósito, mas cobro que ele tenha a humildade de confessar o
insucesso de suas escolhas.
Uma verdade se mostra insofismável: mesmo nos
locais em que se instala a tal Unidade de Polícia Pacificadora, o controle do
território ainda está com o narcotráfico. E, meus caros, sem a conquista
territorial, não se faz nem a guerra nem a paz.
E, ora vejam, o Rio nem chega a estar entre
os cinco estados mais violentos do país. Mas é o único, sim, em que uma
política de segurança pública notavelmente inepta é vendida ao distinto público
como uma fantasia integracionista.
É lamentável.
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