Do
lado de lá
o
improvável,
tão
distante de mim...
....e
tão perto de ti!
A ENFERMIDADE
O
tratamento deixava-a deprimida e agoniada, já para não falar do cansaço. Era
uma corrida contra o tempo e ela não estava disposta a perde-la, embora o
desânimo e o medo a ensombrassem. Tentava não pensar muito, procurando
alhear-se da realidade, mesmo que nem sempre o conseguisse. Por vezes o
desespero e um sentimento de revolta, levavam-na a ser sarcástica, com as
pessoas, para de seguida se arrepender, afinal elas não tinham culpa, que por
algum desígnio misterioso, a doença a tivesse escolhido.
Precisava
de ficar só, para serenar um pouco e se preparar para os silêncios inquiridores
a que era sujeita, sempre que regressava a casa. Aproveitou para se sentar num
dos bancos que circundavam o jardim do hospital, olhando o constante vaivém de
pessoas, tentando perceber pelas diversas fisionomias, os dramas escondidos, ou
um sorriso que irradiasse alguma réstia de esperança.
O
tempo estava frio, mas o sol brilhava com intensidade sob o céu descoberto,
enfeitando-o de um azul mesclado, que se perdia para lá do horizonte. Agora
dava-se conta do mundo ao seu redor e da sua beleza envolvente. Tinha
desperdiçado grande parte da sua vida, com coisas menores, descurando o que de
facto era importante. Aprendeu a valorizar mais os afectos, a olhar à sua volta
com mais atenção, a ouvir o canto da natureza e a desligar-se das futilidades
que nada acrescentavam ao seu quotidiano.
ANA ANDRADE |
Uma
menina sentado no banco ao lado, despertou a sua atenção, por ser diferente das
outras crianças. Um gorro enfiado sobre a cabeça, escondia a falta de cabelo, o
olhar triste e macilento denunciava a enfermidade: Parecia tão frágil e
delicada, apesar da vivacidade que deixava transparecer, como que querendo
dizer à infância para não se resignar. A mãe tinha um olhar triste e
esforçava-se por sorrir, tentando conter uma lágrima, que teimosamente
escorria... acolhendo-a nos seus baços, como se a pudesse proteger.
Sem
querer, ouviu a menina dizer em jeito de consolação - Sabes porque Deus escolhe
os meninos para morrerem? - a mãe abanou a cabeça e com a voz embargada
perguntou - então porquê minha pequenina? - ao que ela respondeu - O Deus do
céu, tem tanto que fazer, que precisa de anjos para o ajudarem, então ele
escolhe os meninos especiais...
Não
teve coragem de ouvir o resto, sentia-se perturbada pela ligeireza como a
criança encarava a sua sua mortalidade. A vida, bem como a morte, nunca eram
justas. Num passo apressado, dirigiu-se à saída, fugindo daquela realidade que
a amedrontava.
Ana
Andrade
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