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CORNO VIDA MANSA
-- Isaura: ando bastante preocupado, muito mesmo.
-- Por quê?
-- Temos que ser mais discretos. Você, então... Pelo amor de
Deus. Meio mundo já sabe. A outra metade
desconfia. Minha mulher anda com a pulga atrás da orelha. Logo, logo, seu
marido vai começar a lhe seguir. Temo pela sua segurança e – sendo franco –
pela minha também. Há homens e mulheres que não perdoam traição, são capazes de
tudo, tornam-se vingativos e violentos. Porra! Estou falando sério, e você
gargalha! Vá se catar!
-- Armando, querido: você acha mesmo que meu marido desconfia de
alguma coisa?
-- Sei lá, Isaura. Espero que não.
-- Bobinho. Ele sempre soube de tudo.
-- Não brinca com essas coisas, mulher. A coisa é séria.
-- Tem mais, Armando: ele me incentiva.
-- Isaura: só pode ser gozação sua.
-- Calma. Ele sabe de sua generosidade para comigo. Nós temos um
pacto: ele não me cria embaraços, faz vistas grossas, e eu sustento a casa e
seus vícios prediletos: cachaça e cigarro. Ele leva uma baita vida: come, bebe,
fuma e dorme. Está muito bem cevado. Sexo? Com ele, não faço há uns cinco, seis
anos. Ele não liga, eu agradeço aos céus.
-- Um problema a menos, Isaura, um problema a menos.
-- Agora, você que se esforce para que sua mulher não saiba de nada.
Não quero perder meu gostosão. (OS - agosto 2016)
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